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Negócio aberto com R$ 50 e sem investidor cresce e tira mercado de gigantes

A Cacow nasceu dentro de casa, em Belo Horizonte, e virou uma das marcas mais promissoras do mercado de alimentos saudáveis — e tudo isso sem aportes de fundos

Os irmãos Rafael e Rodrigo Sarkis, fundadores da Cacow: 5 milhões de reais de faturamento em 2024 e planos de crescer 200% em 2025 (Divulgação/Divulgação)

Os irmãos Rafael e Rodrigo Sarkis, fundadores da Cacow: 5 milhões de reais de faturamento em 2024 e planos de crescer 200% em 2025 (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 22 de novembro de 2025 às 08h01.

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O setor de alimentação saudável é um mercado competitivo, com margens apertadas e consumidores atentos ao rótulo. Mesmo assim, dois irmãos mineiros conseguiram transformar 50 reais e um forno doméstico em um negócio que hoje mira 50 milhões de reais de faturamento até 2030.

A Cacow, marca de snacks naturais criada por Rodrigo e Rafael Sarkis, nasceu em 2018, dentro de casa, com uma receita de cookie proteico feita no improviso. O que começou como curiosidade virou um empreendimento presente em 15 estados brasileiros e referência em crescimento orgânico — sem investidores e com gestão enxuta.

A história ganha relevância agora porque a empresa acaba de cruzar um novo marco: 5 milhões de reais de faturamento em 2024 e planos de crescer 200% até o fim de 2025.

“Escolhemos um modelo de crescimento orgânico, baseado em reinvestimento e gestão enxuta. Isso nos permitiu manter o controle do negócio e garantir sustentabilidade financeira”, diz Rodrigo Sarkis, cofundador da marca.

O futuro inclui ampliar a fábrica, lançar novas linhas e entrar em novos mercados, inclusive fora do país.

Do forno de casa à primeira indústria

Rodrigo, 29 anos, e Rafael, 26, tiveram o primeiro contato com o estilo de vida saudável durante o período em que moraram juntos na Austrália, em 2018.

“Lá, os produtos eram realmente saudáveis e gostosos. Quando voltamos, sentimos falta disso no Brasil”, lembra Rafael.

De volta a Belo Horizonte, começaram a testar receitas com ingredientes comprados no Senhor a Granel, uma loja local. Após dezenas de tentativas, chegaram ao primeiro cookie proteico. O produto agradou amigos e familiares — e logo começou a vender em academias e padarias próximas.

Nos primeiros oito meses, a casa da família virou uma mini fábrica. “A sala estava tomada de baldes de amendoim e sacos de farinha. Nosso pai olhou e disse: ‘Vocês precisam de um lugar próprio’”, conta Rodrigo, rindo. A mudança veio com a reforma de uma pequena loja de rua, que se transformou em cozinha industrial. Ali, conseguiram os primeiros alvarás e padronizaram a produção.

O passo seguinte foi ampliar o alcance. A primeira venda fora de Minas foi entregue pessoalmente por Rafael, que dirigiu até o Rio de Janeiro com o carro cheio de caixas.

Crescimento na raça e na planilha

Sem investidores, a Cacow sobreviveu — e cresceu — com base em reinvestimento e disciplina financeira. “Passamos dois anos sem tirar um real da empresa. Tudo era reinvestido”, conta Rafael.

O fluxo de caixa foi um dos maiores desafios. “Chegou um momento em que pensamos: e agora? Estávamos sem dinheiro, com custos altos e sem crédito no mercado”, relembra o empresário. A solução foi negociar direto com fornecedores e conquistar confiança. “Mostrávamos o produto, o projeto. Assim conseguimos prazos melhores e fôlego para continuar.”

Hoje, a empresa tem cerca de 20 funcionários e ocupa dois galpões, somando 600 metros quadrados em Belo Horizonte. A produção é 70% própria e 30% terceirizada com parceiros.

Mix de aveia da Cacow: inspiração em alimentos saudáveis vendidos na Austrália (Divulgação/Divulgação)

Concorrência com gigantes

A marca disputa espaço com multinacionais que dominam as gôndolas e os orçamentos de marketing. “A diferença é que jogamos o mesmo jogo com muito menos recurso”, afirma Rodrigo.

A Cacow aposta na agilidade e na conexão com o consumidor. “Enquanto as grandes têm burocracia para lançar um produto, a gente pode aprovar hoje e colocar no mercado amanhã”, diz Rafael.

O formato permitiu inovações rápidas. O Oatmeal, uma aveia proteica inspirada no mercado australiano, virou sucesso e chamou atenção até da Unilever e da Nestlé — que lançaram produtos semelhantes meses depois. “A Unilever chegou a nos procurar para terceirizar a produção, mas ainda não temos estrutura para isso”, conta o fundador.

Nas prateleiras, a disputa é física.

“Tem uma guerra de gôndola. As gigantes pagam por melhor posição, e o pequeno acaba ficando escondido”, afirma Rafael. “Mesmo assim, seguimos crescendo com quem realmente se identifica com a marca.”

Planos para o futuro

Com presença em 1.200 pontos de venda e vendas online que já representam 40% do faturamento, a Cacow prepara novos passos. A empresa vai lançar um clube de assinatura, ampliar a fábrica em 200% e testar novos produtos em sachê, como o Oatmeal e o Poop — mistura funcional de fibras.

A meta é atingir 25 produtos diferentes (os SKUs) até 2026 e expandir a distribuição nacional. “Queremos ser fortes em cada estado do Brasil”, diz Rafael.

No longo prazo, a marca planeja internacionalizar a operação e entrar em mercados como Europa, América Latina e Estados Unidos.

“Queremos construir uma empresa saudável em todos os sentidos: financeira, operacional e na proposta que entregamos ao consumidor”, reforça Rodrigo.

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