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‘O agro brasileiro é, sim, sustentável’, diz CEO da Bayer

Maurício Rodrigues, presidente da Bayer Crop Science para América Latina, fala ao podcast da EXAME sobre carreira e os rumos da divisão agrícola da companhia - que investiu € 2,6 bilhões em P&D e tem o Brasil como 2º maior mercado global

Maurício Rodrigues, CEO da Bayer Crop Science América Latina: “Tenho um otimismo cauteloso com o mercado agro neste ano. A tendência é positiva do ponto de vista de clima e gestão, embora crédito e geopolítica ainda recomendem cautela” (Leandro Fonseca/Exame)

Maurício Rodrigues, CEO da Bayer Crop Science América Latina: “Tenho um otimismo cauteloso com o mercado agro neste ano. A tendência é positiva do ponto de vista de clima e gestão, embora crédito e geopolítica ainda recomendem cautela” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 29 de setembro de 2025 às 06h01.

Última atualização em 29 de setembro de 2025 às 07h48.

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O Brasil é destaque mundial quando o assunto é agronegócio. Na divisão agrícola da Bayer, por exemplo, a América Latina responde por cerca de 30% da receita agrícola mundial, e o Brasil já é o 2º país mais relevante da operação, atrás apenas dos Estados Unidos, segundo Maurício Rodrigues, CEO da divisão agrícola da Bayer para a América Latina.

“Em potencial de crescimento, muitas vezes o Brasil é o principal país”, afirma o presidente durante o podcast “De frente com CEO”, da EXAME..

Além da divisão agrícola, que reúne defensivos químicos, sementes de soja, milho e algodão, além de soluções em agricultura digital, a Bayer está estruturada em mais 2 divisões globais: farmacêutica, com medicamentos de prescrição, e consumo, voltados para marcas conhecidas como Aspirina e Bepantol.

"Essas três frentes da companhia são guiadas pelo lema 'Saúde para todos, fome para ninguém'", afirma o CEO.

Para alcançar esse objetivo e se manter competitiva no mercado, a Bayer segue firme em pesquisa e inovação. Segundo Rodrigues, só em 2024, a divisão agrícola investiu € 2,6 bilhões em P&D no mundo e mobilizou 7.800 funcionários dedicados à inovação em mais de 60 países.

Entre os principais avanços, o CEO destaca:

  • Vendas globais: 22,26 bilhões de euros.

  • Novos produtos: mais de 490 variedades e híbridos desenvolvidos em culturas como milho, soja, algodão, canola, arroz, trigo e vegetais.

  • Tecnologias de sementes e biotecnologia: alcançaram 137 milhões de hectares em todo o mundo.

“Temos um padrão expressivo de lançamentos este ano e uma perspectiva muito positiva para os próximos 5 e 6 anos, em químicos, sementes/biotecnologia e agricultura digital,” diz Rodrigues. 

Em entrevista exclusiva à EXAME, o presidente da divisão agrícola da Bayer para a América Latina falou sobre os desafios do negócio, as expectativas para o setor e revelou o que ‘plantou’ ao longo da trajetória para hoje ‘colher’ conquistas profissionais tão relevantes - como a cadeira de CEO de uma das maiores companhias do agronegócio mundial.

2025: clima melhor, crédito ainda apertado e “otimismo cauteloso”

Para este ano, o CEO acredita que o cenário do agro será mais favorável do que em 2024, especialmente por fatores climáticos e por uma adaptação do setor a preços de commodities mais baixos.

“Tenho um otimismo cauteloso com o mercado agro neste ano. A tendência é positiva do ponto de vista de clima e gestão, embora crédito e geopolítica ainda recomendem cautela,” diz

Sobre o “tarifaço” de Trump, Rodrigues evita projeções exatas. “Sem dúvida, tem alguns impactos, mas é difícil mensurar, até porque divergem em cada segmento. O melhor que podemos fazer é estar próximos dos clientes e manter o diálogo aberto num tema volátil.”

Do produto à solução: dados do solo como vantagem competitiva

A estratégia para a Bayer avançar na divisão de agro no mundo se apoia no tripé inovação, sustentabilidade e digitalização, com foco em agricultura regenerativa — produzir mais e proteger o solo para manter a produtividade no longo prazo.

“Quanto mais rentável é o mesmo solo, menos necessidade de expandir área. O objetivo é produzir mais protegendo o meio ambiente para continuar produtivo no futuro,” afirma o CEO.

Exemplo disso é o Procarbono (em parceria com a Embrapa), que mede o efeito de boas práticas como plantio direto e rotação de culturas com 2.000 agricultores e mais de 300 mil amostras de solo.

“Conseguimos demonstrar mais de 10% de produtividade e mais de 15% de fixação de carbono no solo,” afirma o CEO.

Para Rodrigues, o agronegócio avança, inclusive, quando a pauta é sustentabilidade.

“O agro brasileiro é, sim, sustentável. O que precisamos é punir quem não segue as boas práticas, para que a grande maioria desfrute da imagem positiva.”

Veja também: Do plantio à fábrica: conheça como é o ‘processo seletivo’ do tomate da Kraft Heinz Brasil

COP30: atacar problemas reais, não mitos

Com passagens por Glasgow, Sharm el-Sheikh e Dubai, o executivo vê a COP30, que será realizada neste ano no Brasil, como palco para reposicionar a agricultura tropical.

“A COP é um fórum essencial. No Brasil, precisamos demonstrar de maneira eficiente a sustentabilidade da agricultura — atacar problemas reais, não mitos — e posicionar o país de forma positiva.”

Maurício Rodrigues, CEO da Bayer Crop Science América Latina: “Liderar é um exercício de ego: é preciso confiar nas pessoas e saber onde, de fato, eu agrego.” (Leandro Fonseca /Exame)

O gaúcho que chegou à cadeira de CEO da Bayer agrícola 

Nascido em São Paulo, filho de gaúchos, Rodrigues credita à educação a mudança de trajetória da família e da própria carreira. Formado em Engenharia Civil pela USP, ele iniciou no mercado financeiro e, em 1999, ingressou na então Monsanto (hoje Bayer), onde soma 26 anos de trajetória.

“Eu tive uma trajetória diferente de muitas pessoas negras dentro do país, porque eu tive condições de competir de igual para igual, mesmo convivendo com preconceitos,” diz Rodrigues.

Entre 2010 e 2014, viveu nos Estados Unidos e no México — uma imersão que, segundo ele, redefiniu sua forma de liderar.

“Me colocar numa zona total de desconforto foi fundamental…olhar o Brasil sob outra perspectiva e viver uma cultura diferente abriu um portal que eu não conhecia.”

Liderança: curiosidade, colaboração e ego sob controle

A figura do líder mudou, segundo Rodrigues. Do “campeão de entrega” que predominava nos anos 2000, o mercado passou a exigir um gestor capaz de escutar, incluir e decidir em conjunto.

“Se eu tivesse que dizer, curiosidade, colaboração e um ego bem controlado.”

Ele cita o modelo DSO (Dynamic Shared Ownership), adotado na Bayer, para reduzir camadas decisórias e empoderar quem está mais perto da operação.

“Liderar é um exercício de ego: é preciso confiar nas pessoas e saber onde, de fato, eu agrego.”

A própria trajetória pessoal reforça o ponto: “Eu era tímido. Aprendi que escutar é positivo, mas é preciso se posicionar na hora certa. Treino, preparação e experiência foram lapidando isso.”

Diversidade como valor (e não campanha)

A Bayer trabalha pilares como gênero, raça e orientação sexual, com programas direcionados — caso do trainee para liderança negra apoiado pelo grupo de afinidade Biafro.

“Diversidade e inclusão são valor, não campanha. Queremos que nossa composição reflita a sociedade; avançamos, mas ainda há caminho.”

Leia também: Lançando novas sementes: a aposta global da Embrapa agora chega à África e à Ásia

O que se planta, se colhe

Quando questionado sobre “o que ele plantou que ele colhe hoje”, Rodrigues associa os resultados atuais às sementes lançadas ainda na infância e no início da carreira. A base educacional sólida, incentivada pelos pais, somada ao esforço e à disciplina, moldou o profissional que hoje lidera a divisão agrícola da Bayer na América Latina.

“Foram sementes muito bem plantadas lá atrás e que me ajudam até hoje com uma boa base de preparação. Acredito que essa fundação educacional foi a semente mais importante. Ela me manteve curioso e me desafiou a aprender coisas novas", diz o CEO. "Essa capacidade de estar sempre aprendendo é o que viabiliza crescer na carreira.”

Para o executivo, a combinação de curiosidade constante, colaboração genuína e preparo técnico é o que garante não apenas bons resultados de curto prazo, mas também a construção de uma liderança capaz de gerar impacto duradouro em uma gigante como a Bayer.

Sobre a Bayer no mundo

Fundada em 1863, a Bayer se consolidou como uma das maiores multinacionais de ciências da vida, com presença em 80 países e 354 unidades ao redor do mundo. A companhia emprega cerca de 99,7 mil colaboradores, atuando nas áreas agrícola, farmacêutica e de consumo.

Em 2024, a multinacional registrou 46,6 bilhões de euros em vendas (alta de 0,7%) e Ebitda de 10,1 bilhões de euros (queda de 13,5%). O fluxo de caixa livre somou 3,1 bilhões de euros, um salto de 137% em relação ao ano anterior. Já os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) atingiram 6,2 bilhões de euros, avanço de 15,6%.

A região da América Latina foi responsável por 6,25 bilhões de euros em vendas da divisão agrícola em 2024. São cerca de 13 mil funcionários, sendo 800 em P&D e 2,9 mil em Product Supply, com presença em 19 países e sedes em quatro deles.

No Brasil, onde está presente desde 1896, a Bayer conta com 3.300 funcionários na divisão agrícola e 28 centros de inovação.

Leia também: ‘Nunca tínhamos visto uma inflação assim’, diz presidente da Nestlé Brasil sobre o cacau e café

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