Renato Ticoulat Neto, da Limpeza com Zelo: "Estamos fazendo por mês o que faturamos em todo o ano de 2023”
Repórter de Negócios
Publicado em 25 de junho de 2025 às 07h25.
O boom dos aluguéis por temporada transformou apartamentos em hotéis e turistas em hóspedes rotativos. Mas alguém precisa manter tudo limpo: e de maneira rápida e padronizada, deixando tudo pronto para o próximo check-in.
Essa tarefa, muitas vezes ignorada, virou negócio milionário para Renato Ticoulat Neto, fundador da franquia Limpeza com Zelo.
A rede realiza mais de 30.000 limpezas por mês e projeta encerrar 2025 com 50.000 por mês, dobrando o faturamento atual de 130 milhões de reais. A estratégia: firmar contratos com operadoras que controlam centenas de apartamentos e entregar a operação a franqueados locais com agilidade e eficiência.
Renato veio de outro universo. Nascido em família de fazendeiros e neto de um dos fundadores do jornal que viria a ser a Gazeta do Povo, no Paraná, cresceu contando sacos de café e assistindo de perto a lógica do desempenho.
“Quem colhia mais, ganhava mais. Isso ficou na minha cabeça. Hoje, meu franqueado ganha por produtividade também”, afirma.
A história da Limpeza com Zelo virou caso de estudo durante a pandemia, quando a empresa passou de prestes a quebrar para protagonista do setor, vendendo milhões de metros quadrados de desinfecção com uma tecnologia que até então ninguém queria. Hoje, aposta na limpeza rápida e no pós-venda de apartamentos Airbnbs como a via de crescimento para os próximos anos.
“Crescemos 12 vezes nesse segmento. Estamos fazendo por mês o que faturamos em todo o ano de 2023”, diz Ticoulat.
Antes de falar de franquias e produtividade, Renato tocava outro tipo de operação.
“Minha infância foi em fazenda. Eu contava saco de café para saber quem tinha colhido mais. Vi gente ficar rica e vi gente perder tudo por não trabalhar direito.”
Formado em engenharia civil, participou de grandes incorporações — incluindo a venda de terrenos para o Shopping Ibirapuera, em São Paulo — até entrar no mercado de facilities, termo usado para serviços como limpeza e manutenção predial.
Nos anos 1990, foi sócio da gigante americana de limpeza Jani-King e participou da fundação da Associação Brasileira de Franchising (ABF). “Não existia franquia de serviço no Brasil. A gente montou tudo do zero, inclusive o código de ética”, afirma.
Foi só nos anos 2000 que Renato decidiu fundar sua própria empresa, focada inicialmente em limpeza residencial. “A Limpeza com Zelo surgiu para atender casas e apartamentos com padrão mais alto, onde o cliente queria alguém de confiança e limpeza com padrão técnico.”
Por anos, a empresa operou em paralelo com outros negócios do grupo e manteve uma estrutura enxuta. A virada veio em 2015, com a perda de contratos corporativos e, depois, com a pandemia. O que era uma operação pequena ganhou protagonismo.
“Durante a covid, fizemos um acordo com meus antigos sócios americanos e migrei tudo para a Limpeza com Zelo. Ela virou o meu negócio principal.”, diz.
Em 2019, a Limpeza com Zelo tinha cerca de 350 contratos com redes de restaurantes. Com a pandemia, perdeu todos de uma vez. “Da noite para o dia, sumiu tudo.”
Mas Renato já vinha testando um sistema de desinfecção eletrostática trazido dos Estados Unidos — tecnologia usada na agricultura para eliminar pragas como a ferrugem do café.
“Durante dez anos, ninguém queria. Quando veio a covid, começamos a vender um milhão de metros quadrados por dia.”
Com a demanda explosiva, a empresa teve que fabricar os próprios equipamentos no Brasil, por falta de importação. “Foi uma loucura. Mas mantivemos a rede de franqueados viva. E aprendemos a ser rápidos. A covid foi um treino.”
O segmento de curta temporada surgiu como alternativa natural. Com o avanço de plataformas como o Airbnb, o que antes era improviso passou a exigir padronização.
“Trabalhamos hoje com pelo menos dez operadoras que têm mais de mil apartamentos cada uma.”
O modelo é B2B2C — a Limpeza com Zelo fecha contratos com operadoras, que fazem a intermediação com os hóspedes. “Tem prédio que fazemos 150 limpezas por dia. E não é só limpar. Lavamos enxoval, cuidamos do pós-venda, trocamos lâmpadas, desentupimos privadas.”
Em São Paulo, são 285 prédios atendidos. Cada um com um “franqueado local” que mora ou atua na região, pronto para resolver qualquer problema.
“Airbnb é um caos logístico. O hóspede quebra prato, entope pia, derruba cortina. O franqueado precisa estar no prédio para resolver tudo. Não dá para operar isso à distância.”
Diferente de outras redes, a Limpeza com Zelo só abre franquias onde já há contrato assinado com operadora. “Meu franqueado não precisa vender. Se em 120 dias ele não estiver faturando o que prometemos, devolvemos o dinheiro da franquia.”
Para manter a agilidade, a empresa desenvolveu assistentes virtuais com inteligência artificial. A “Tia” fala com candidatos a franqueado individual. A “Zélia” cuida dos franqueados regionais.
“Tem dia que recebemos 80 ligações de gente querendo trabalhar. A IA filtra, explica o modelo, encaminha contrato, resolve tudo.”
Além disso, Renato criou grupos no Facebook com diaristas nas principais cidades. “O grupo de São Paulo tem 55.000 pessoas. Nem apareço como dono. Até concorrente recruta ali. Mas eu já tenho a base.”
Apesar da demanda crescente, a expansão é gradual. “Não posso abraçar o mundo. Cada franqueado precisa de suporte e treinamento. E tudo tem que ser feito com qualidade.”
A operação é cheia de imprevistos. “Já tivemos hóspede que trancou a porta por dentro e saiu. Na volta, não conseguiu entrar. Meia-noite, ligaram para resolver.”
Mesmo assim, o plano é dobrar o faturamento. “Já crescemos 45% sobre o ano passado. O faturamento de 2023 a gente faz em um mês hoje.”
Com o avanço de novos empreendimentos voltados a locações curtas, há sinais de saturação. Mas Ticoulat vê espaço. “Vai saturar nos locais ruins, mas sempre vai ter demanda em regiões com eventos e turismo.”
“Do lado do Allianz Parque, por exemplo, sempre está cheio. E São Paulo teve 18 milhões de visitantes em 2024. A previsão é crescer mais 20% este ano.”
Cidades como Recife, João Pessoa e Balneário Camboriú giram em torno do turismo. Já Porto Alegre surpreende pela alta ocupação fora da temporada. “É uma cidade de negócios, não de praia. Nossa operação lá é forte o ano inteiro.”
Para Renato, o que começou com sacos de café virou cálculo por limpeza entregue. “Meu modelo é produtividade. Quem entrega mais, fatura mais. E isso vale tanto para quem começou ontem quanto para quem já fatura 2 milhões por ano.”