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O motivo por trás do fim da mais antiga empresa gaúcha — fundada há 170 anos, na era de D. Pedro II

Fundada em 1855, a fabricante de sal Azevedo Bento não resistiu aos impactos das enchentes de 2024

Sal Pirata: uma das marcas da Azevedo Bento, que encerrou as atividades após 170 anos (Azevedo Bento/Divulgação)

Sal Pirata: uma das marcas da Azevedo Bento, que encerrou as atividades após 170 anos (Azevedo Bento/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de setembro de 2025 às 11h56.

Última atualização em 2 de setembro de 2025 às 18h40.

Fundada em 1855, ainda sob o reinado de Dom Pedro II, a gaúcha Azevedo Bento acompanhou o Brasil se transformar, do Império à República, das disputas entre maragatos e ximangos à Revolução de 1930, da construção de Brasília ao avanço da internet.

Viu 39 presidentes passarem pelo Palácio do Planalto, 22 Copas do Mundo, 30 Olimpíadas e mais de um século e meio de mudanças políticas, econômicas e sociais.

Depois de quase dois séculos em operação, a Azevedo Bento, tradicional fabricante de sal do Rio Grande do Sul e atual dona da marca Pirata, anunciou o encerramento de suas atividades.

A decisão de fechar as portas foi anunciada em comunicado ao mercado e divulgada pela colunista Giane Guerra, do jornal Zero Hora, e confirmada pela EXAME.

O principal motivo foi o agravamento das dificuldades logísticas provocadas pelas enchentes históricas de 2024.

Com o assoreamento do Lago Guaíba e a consequente redução do calado — profundidade mínima para navegação — os navios a granel passaram a operar com capacidade reduzida.

"Isso limitou severamente a capacidade de carga dos navios a granel e elevou o custo do frete marítimo a níveis que inviabilizam nossa operação no longo prazo", diz parte do comunicado.

Fundada em 1855 por João Batista Ferreira de Azevedo, então comendador do Império, a empresa começou como um armazém de secos e molhados na Rua Sete de Setembro, em Porto Alegre. Ao longo das décadas, tornou-se referência nacional em sal, com forte presença no mercado gaúcho e filiais em cidades estratégicas como Pelotas e Rio Grande.

O encerramento das atividades marca o fim de um ciclo de quase 170 anos.

Nos últimos anos, a empresa já enfrentava dificuldades financeiras e chegou a entrar em recuperação judicial, encerrada em 2022. Em seguida, foi adquirida pela Indústria de Sal Romani, com sede no Paraná, mas a nova gestão não conseguiu reverter a trajetória de queda.

A EXAME tentou contato com as empresas, mas não teve retorno.

Uma história de 170 anos

A Azevedo Bento nasceu em uma Porto Alegre ainda sob influência direta do Império.

A casa comercial original revendia de tudo: de alimentos e bebidas a produtos de limpeza e sabão.

O negócio cresceu com o avanço do comércio marítimo e passou a importar e exportar produtos por meio de acordos com companhias de navegação.

A expansão veio acompanhando o crescimento econômico do estado no final do século 19 e início do século 20.

A empresa abriu filiais em cidades como Rio Grande e Pelotas e, mais tarde, focou na produção e distribuição de sal, mais recentemente com a marca Pirata, conhecida em supermercados e mercados de bairro em todo o Sul.

Durante boa parte do século 20, a empresa manteve um perfil conservador, com forte vínculo regional e presença constante nas mesas gaúchas.

Nos últimos anos, estava presente nas redes sociais. Frequentemente, relembrava os usuários de que era uma empresa que atravessou marcos importantes da história do Brasil, do Império à República, a 22 Copas do Mundo e 60 Olimpíadas.

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