Mark Sisson, da Primal Kitchen: ao contrário do que fazem muitas startups de alimentos, a Primal Kitchen não buscou rodadas de investimento nem aceleradoras (Phillip Faraone/Getty Images)
Repórter de Negócios
Publicado em 4 de junho de 2025 às 14h35.
Em 2015, o mercado de alimentos saudáveis ainda era pequeno. Maionese custava 3 ou 4 dólares. Lançar uma versão por 10 dólares, feita com óleo de abacate, parecia fora da realidade — ou um erro de cálculo.
Mark Sisson não achava. Ignorou especialistas, apostou na própria intuição e criou a Primal Kitchen. A marca nasceu com um pote de maionese "do bem" e virou um negócio de 200 milhões de dólares em três anos.
“Embora nosso crescimento tenha superado todos os padrões da indústria, nossa parceria com uma empresa como a Kraft Heinz oferece uma oportunidade única de alcançar milhões de consumidores que procuram produtos como os nossos há anos”, afirmou Sisson ao jornal Financial Times.
A Primal Kitchen foi comprada pela Kraft Heinz em 2018. A gigante tentava reagir à perda de valor de mercado e encontrou no portfólio de Sisson um caminho para se reconectar com os novos hábitos de consumo.
Antes de ter um produto à venda, Sisson passou mais de uma década construindo autoridade no nicho de nutrição e bem-estar.
Seu blog, o Mark’s Daily Apple, acumulava 3,5 milhões de visitantes mensais. Ele também vendia suplementos por meio da Primal Nutrition, com receita entre 7 milhões e 9 milhões de dólares por ano.
Com essa base de seguidores fiéis, o lançamento da maionese teve tração imediata. A proposta era simples: um condimento compatível com a dieta paleo, sem ingredientes artificiais ou óleos processados. A primeira leva de 12.000 potes foi embalada à mão por ele e pela cofundadora Morgan Zanotti — e esgotou em uma semana.
Diferente de outras foodtechs, a Primal Kitchen cresceu sem rodadas de investimento nem apoio de aceleradoras. Sisson aportou 2 milhões de dólares do próprio bolso e assumiu um empréstimo que chegou a 9 milhões, usando como garantia a empresa de suplementos que já possuía.
O maior custo estava no principal ingrediente: óleo de abacate, caro e pouco comum na indústria na época. Ainda assim, ele preferiu manter controle total da operação e evitar a pressão de investidores externos.
Com o boca a boca impulsionado pela comunidade do blog, a Primal Kitchen entrou nas prateleiras da rede Whole Foods em poucos meses. Em 2016, chegou à Publix. O crescimento foi rápido: 1,5 milhão de dólares no primeiro ano, depois 13 milhões e, em 2018, 50 milhões de dólares em receita, quando a marca foi adquirida.
Zanotti, com experiência em marketing, foi a responsável por posicionar a marca nas redes. Apostou em campanhas digitais e slogans diretos, como #HoldtheCanola, para reforçar o discurso contra óleos refinados e ultraprocessados.
A aquisição da Primal Kitchen veio logo após o fracasso da Kraft Heinz em comprar a Unilever por 143 bilhões de dólares. Com o valor de mercado em queda, a multinacional passou a buscar marcas menores, autênticas e em sintonia com as novas demandas do consumidor.
Sisson e Zanotti continuaram à frente da operação, agora dentro da Springboard, unidade da Kraft criada para acelerar marcas emergentes no setor de alimentação saudável. A proposta era usar a infraestrutura da gigante sem diluir o posicionamento da marca original.
Sisson, que fundou a empresa aos 62 anos, sabia desde o início que sairia em algum momento. “Você chega num ponto em que entende que não tem mais o que agregar que outra empresa, com mais dinheiro e canais, não possa fazer melhor”, disse ao Financial Times.
A Primal Kitchen fechou 2024 com 250 milhões de dólares em vendas brutas no varejo, mais do que o dobro do valor da venda inicial. A base de fãs segue engajada, e o portfólio agora inclui molhos, barras, shakes e temperos, todos ainda com foco em ingredientes naturais e sem aditivos artificiais.
O que começou como um experimento virou uma operação global. E mostrou que, mesmo num mercado dominado por gigantes, é possível abrir espaço com uma boa história, um produto alinhado à demanda — e uma comunidade disposta a comprar a ideia desde o começo.