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O que falta para o Brasil ter um supercomputador para a era da IA?

Durante Rec’n’Play, representante do Ministério de Ciência e Tecnologia detalhou os planos para investir R$ 1,8 bilhão numa estrutura para ‘ler’ dados sensíveis do governo, como em saúde e agricultura, no Brasil a partir de 2026

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 17 de outubro de 2025 às 07h39.

Última atualização em 17 de outubro de 2025 às 09h20.

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O Brasil está se preparando para um avanço significativo em sua infraestrutura tecnológica com a construção de um supercomputador, um projeto estratégico que contará com um investimento de R$ 1,8 bilhão. 

A expectativa é que o supercomputador, que será um dos cinco mais poderosos do mundo, esteja em funcionamento até 2026. Este é um dos pilares do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que visa garantir soberania tecnológica e preparar o país para os desafios da era digital, em um cenário global dominado por grandes potências tecnológicas.

A questão foi debatida em um painel durante o Rec'n'Play, festival de inovação realizado em Recife, com a participação de Hugo Valadares, Diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); Germano Vasconcelos, professor da UFPE; e Geber Ramalho, conselheiro do CESAR

A discussão trouxe à tona a urgência da construção de uma infraestrutura computacional robusta no Brasil, um passo essencial para garantir que o país possa competir com potências globais em áreas como IA, big data e computação quântica.

O porquê do supercomputador

O Brasil, atualmente, depende de servidores estrangeiros para processar grande parte dos seus dados. De acordo com Valadares, “sem capacidade de processamento local, o Brasil não consegue participar plenamente da corrida global pela inteligência artificial”. 

O supercomputador que está sendo planejado não se limitará apenas a atender a demanda interna do país, mas também terá potencial para ser utilizado por instituições de pesquisa e empresas que dependem de grande capacidade de processamento de dados, como universidades, centros de pesquisa, e até empresas do setor privado.

A localização do supercomputador ainda está em discussão, mas existem algumas regiões do país sendo consideradas. O supercomputador será instalado em um dos centros de excelência já existentes no Brasil, com forte infraestrutura de pesquisa. 

“A ideia é garantir que ele esteja em um local com boa infraestrutura de TI e com proximidade de centros de pesquisa, como o LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica), no Rio de Janeiro, que já tem um papel estratégico nessa área”, comentou Valadares.

Além disso, o MCTI está conversando com diversas instituições e empresas que poderiam se beneficiar da estrutura, incluindo universidades públicas e privadas, centros de pesquisa em ciência de dados, e até empresas de tecnologia que estão buscando desenvolver soluções em IA, como startups de tecnologia e empresas do setor agrícola, que poderiam aplicar a tecnologia para melhorar a produtividade e eficiência.

O investimento no supercomputador brasileiro também está diretamente ligado à busca pela soberania tecnológica do país. Durante o painel, Germano Vasconcelos destacou que “o Brasil não pode se dar ao luxo de depender de dados e infraestrutura hospedados no exterior, principalmente quando se trata de informações sensíveis, como as do SUS”.

Atualmente, cerca de 60% dos dados do Brasil são processados em servidores estrangeiros, um cenário que limita a autonomia do país e pode colocar em risco a segurança de informações vitais.

“O supercomputador vai permitir ao Brasil processar seus dados internamente, dando maior controle sobre suas informações e protegendo dados sensíveis que, hoje, estão nas mãos de empresas estrangeiras”, afirmou Valadares.

Essa independência tecnológica é vista como essencial para o Brasil enfrentar desafios críticos, como a melhoria na saúde pública e a gestão de grandes volumes de dados no setor público.

Além de garantir a infraestrutura necessária para o processamento de dados, o supercomputador está atrelado à capacitação de profissionais altamente qualificados.

Segundo Geber Ramalho, “não adianta ter a infraestrutura se o país não tiver as pessoas preparadas para operar e desenvolver soluções com ela”.

A formação de profissionais em áreas como inteligência artificial, computação científica e cibersegurança será essencial para aproveitar todo o potencial do supercomputador.

Painel no Rec'n'Play, festival de inovação em Recife: em busca de uma estratégia brasileira para a IA (Divulgação)

Um plano para a IA no Brasil

A César School, uma das principais instituições de ensino e pesquisa em tecnologia de Pernambuco, é uma das responsáveis por formar esses profissionais.

Ramalho enfatizou que “o Brasil tem uma vantagem competitiva, que é o talento local. O ecossistema de Pernambuco, com o Porto Digital e outras instituições, tem se consolidado como um modelo para o país. Temos uma grande capacidade de formar profissionais qualificados e colaborar com a indústria e o governo”.

O PBIA, que está sendo desenvolvido pelo governo federal, não se limita ao supercomputador. Ele também envolve outros aspectos importantes, como a formação de profissionais qualificados e a aplicação de inteligência artificial para resolver problemas práticos, como a redução de filas no sistema de saúde ou a otimização da produção agrícola.

“O PBIA é um plano dinâmico, e estamos trabalhando para garantir que ele seja implementado de forma eficaz”, afirmou Valadares.

A construção do supercomputador é apenas uma das ações previstas, que também incluem iniciativas para promover a aplicação da IA no setor público e na indústria, além de um foco na regulamentação e na ética em IA.

Para Ramalho, é fundamental que o governo priorize os problemas que mais afetam a população brasileira, como “a saúde pública, a educação e o agronegócio”.

Ele explicou que o país não precisa necessariamente se concentrar em se tornar líder global em IA, mas em aplicar a tecnologia de maneira estratégica para resolver questões locais. “O Brasil tem de focar na utilização da IA para melhorar a vida das pessoas. Há problemas imensos que a IA pode ajudar a resolver e que são específicos do nosso país”, disse.

A expectativa é que o supercomputador brasileiro esteja em operação até 2026, mas o caminho até lá não será fácil.

O mercado de tecnologia de GPUs (unidades de processamento gráfico) está altamente inflacionado, com poucas empresas dominando a produção desses componentes essenciais para a construção de supercomputadores.

“O Brasil precisa lutar para garantir que tenha acesso aos melhores preços e tecnologias para não ficar atrás na corrida global”, alertou Vasconcelos.

Além disso, a integração de todas as ações previstas no PBIA exigirá uma colaboração estreita entre governo, academia e indústria. A estratégia do governo é envolver todos os atores relevantes para garantir que as soluções desenvolvidas atendam às necessidades reais do Brasil.

“O supercomputador é um passo significativo, mas é apenas uma parte de um esforço muito maior para construir uma infraestrutura tecnológica robusta no país”, disse Valadares.

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