Raphael Levi, Thiago Dalvi e Gustavo Traballe: expectativa é que produtos de crédito representem mais de 50% da receita da empresa em até três anos (Olist/Divulgação)
Repórter
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 11h00.
Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 11h43.
Nesta segunda-feira, 4, a plataforma de ferramentas para PMEs Olist anuncia a compra da fintech de crédito Flip após nove meses de negociação.
A operação marca um novo passo na estratégia da companhia de integrar produtos financeiros à rotina dos clientes — e coloca o crédito no centro das ambições futuras do grupo.
A aquisição inclui 100% do controle da Flip, que passa a operar sob o nome Flip by Olist.
O movimento amplia a frente de serviços financeiros da Olist, que agora oferece antecipação de recebíveis diretamente dentro do seu sistema de gestão empresarial (ERP).
Para isso, a empresa estruturou um fundo de R$ 90 milhões via FIDC, fundo de investimento em direitos creditórios, e estima lançar o produto dentro da plataforma em até 60 dias.
Ao longo da última década, a curitibana Olist passou por diferentes modelos de negócio — loja física, marketplace, ERP, logística — até consolidar um portfólio que conecta gestão, vendas, finanças e distribuição.
A entrada definitiva em crédito, no entanto, é uma mudança de peso.“Nosso objetivo é que o cliente resolva tudo no mesmo ambiente. Ele acessa a página 'Contas a receber', escolhe quais faturas quer antecipar, vê o preço, clica e recebe o dinheiro. Simples assim”, explica o fundador e CEO da Olist, Thiago Dalvi.
Essa lógica de integração direta ao sistema de gestão transforma a Olist em algo próximo a um “banco invisível” — um provedor de crédito embutido, que opera no dia a dia da empresa sem exigir que o cliente busque as ferramentas fora da plataforma.
Segundo ele, o grande diferencial competitivo está no cruzamento de dados operacionais em tempo real — vendas, estoque, emissão de notas —, que permite uma precificação mais justa e ágil do crédito oferecido às PMEs. Esse acesso detalhado ao “pulso” da operação, diz Dalvi, é algo que grandes bancos não têm.
Semana passada, a Olist anunciou a chegada de agentes de IA para PMEs, uma espécie de funcionário digital. A empresa já atende 50 mil clientes ativos e transaciona mais de R$ 60 bilhões ao ano na plataforma.
A última rodada de investimento relevante, uma Série E em 2021, trouxe US$ 186 milhões (quase R$ 1 bilhão na época) para reforçar o caixa da companhia. De lá para cá, o crescimento veio acompanhado de aquisições estratégicas — como as startups de ERP Tiny e de logística Pax.
Fundada por Raphael Levi e Gustavo Traballe em 2018, a Flip já havia movimentado mais de R$ 1,5 bilhão em crédito até o início de 2025.
Com tecnologia própria, a fintech permite que o cliente antecipe seus recebíveis em minutos, sem burocracia e sem necessidade de contato humano.
A expectativa era movimentar R$ 500 milhões apenas com recebíveis de cartão de crédito em 2024, crescimento puxado por novas regulações do Banco Central que ampliaram a transparência do setor.
Com 65 funcionários e cerca de 3 mil clientes ativos, a empresa seguirá operando com liderança própria, mas agora sob o guarda-chuva da Olist. Levi assumirá a vertical de crédito da companhia, com foco em integrar a ferramenta ao ERP.
“Crédito é a maior dor do pequeno empreendedor brasileiro, e também o produto mais complexo para se oferecer. Exige disciplina, tecnologia e capilaridade. Vimos na Flip uma experiência robusta, com histórico de baixa inadimplência e uma equipe com muita bagagem no setor”, afirma Dalvi.
Hoje, mais da metade das transações da Olist envolve duplicatas entre empresas, tipo de operação coberta pela Flip.
A sinergia entre os produtos e perfis de clientes foi determinante para o negócio, segundo Dalvi.
Ao ser questionado sobre o futuro da vertical financeira, ele aponta que, em até três anos, produtos como crédito, conta digital e pagamentos devem representar mais de 50% da receita da empresa.
“É o caminho natural. As grandes referências globais, como Shopify e Mercado Livre, já têm mais da metade do faturamento vindo de soluções financeiras. A Olist está seguindo esse mesmo percurso”, diz.
A empresa não descarta novas aquisições. Mas, por ora, o foco está em digerir o novo ativo, ampliar a oferta de crédito e manter a qualidade da operação.
“Só com a nossa base atual de duplicatas, conseguimos construir um negócio bilionário em crédito dentro da casa. O apetite existe, mas a execução precisa ser disciplinada”, diz o CEO.