Julia Salles: diretora de Fulfillment by Amazon (FBA), da Amazon Brasil (Amazon Brasil/Divulgação)
Repórter
Publicado em 27 de junho de 2025 às 06h06.
No competitivo mercado do e-commerce brasileiro, muitas empresas priorizam a velocidade de entrega dos produtos mirando a fidelização dos clientes. O cenário atrai inclusive gigantes chinesas de entrega rápida e logística, como a plataforma Meituan e a Didi (dona do iFood), que estão de olho no crescimento do setor e pela busca das empresas por diversificação.
Para tomar a dianteira nessa disputa, a Amazon aposta na expansão suas operações de logística no país a partir deste semestre. Essa missão será protagonizada pelo programa Fulfillment by Amazon (FBA), que até o final de 2025, estará presente nos centros de distribuição da empresa em Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará.
Neste programa, os vendedores delegam toda a gestão de logística à empresa, desde o armazenamento até a entrega e o atendimento ao cliente pós-venda. Agora, a iniciativa também permitirá que vendedores parceiros, tanto do Regime Regular quanto do Simples Nacional, enviem seus produtos diretamente para esses centros, com toda a logística sendo gerenciada pela Amazon.
Em entrevista exclusiva à EXAME, Julia Salles, diretora do FBA da Amazon no Brasil, explica que a ampliação para essas regiões foi motivada pela necessidade de aproximar os centros de distribuição dos vendedores, o que reduz os custos de envio e, principalmente, permite que os vendedores trabalhem com seus próprios CNPJs.
"Existem muitos vendedores em Minas Gerais ou Santa Catarina, estados que oferecem incentivos fiscais para quem trabalha com e-commerce, como redução da alíquota de ICMS. Mas, se eles quiserem operar na Amazon pelo FBA, precisariam abrir um CNPJ em São Paulo ou no Rio Grande do Sul, pois até o momento são os únicos contemplados pelo FBA".
E acrescenta: "A partir deste ano, com um centro de distribuição em estados como Minas Gerais, o vendedor mineiro, por exemplo, poderá usar um CNPJ local, simplificando muito a adesão ao programa e deixando a operação mais vantajosa para ele, pois não perderá seus benefícios fiscais".
A ampliação do FBA para novos centros de distribuição também pretende trazer maior velocidade para os consumidores fora de São Paulo, como no Nordeste, Sul e Centro-Oeste. "Isso reduz o tempo de entrega, traz agilidade e diminui o impacto logístico de transportar os produtos por longas distâncias", afirma. "É um benefício sustentável, pois reduz a necessidade de transporte aéreo, o que implica em custos e impacto ambiental. Se o produto estiver no centro de distribuição de Recife, por exemplo, ele chegará muito mais rápido e de forma mais eficiente ao cliente."
A Amazon trouxe o FBA ao Brasil em 2020, com operação inicial no centro de distribuição de São Paulo — o maior da companhia no país, com 75 mil m2 —, já que o estado concentra a maior quantidade de vendedores da companhia, em torno de 38 mil. Assim que o programa foi implementado nesta instalação, a Amazon começou a planejar as diretrizes para que o FBA se tornasse oficialmente nacional no futuro.
Centro de Distribuição da Amazon em Nova Santa Rita, Rio Grande do Sul (Amazon/Divulgação)
Mas, Julia Salles reforça que o maior desafio para esse processo foi adequar às normas de cada estado. "No FBA, a Amazon se dispõe a emitir nota fiscal pelos vendedores. Para isso, precisamos estar de acordo com legislações de cada unidade federativa. A expansão foi tirada do papel gradualmente com negociações com governos estaduais no paralelo e acompanhamento de uma série de políticas públicas. E finalmente, temos uma sinergia técnica para que esse projeto funcione no segundo semestre de 2025".
O centro de distribuição de Nova Santa Rita (RS), que já opera o programa desde 2024, começará a atender, a partir de agosto de 2025, vendedores de Santa Catarina e Paraná. Contudo, a empresa não abriu números sobre os investimentos que fará nos estados receberão o FBA.
No primeiro trimestre de 2025, a Amazon Brasil registrou um lucro líquido de US$ 17,1 bilhões, um aumento de 64% em relação ao mesmo período de 2024, e receita líquida de US$ 155,7 bilhões, alta de 9% na comparação anual. A companhia expandiu suas operações no Brasil, superando a marca de 100 mil vendedores parceiros e oferecendo mais de 150 milhões de produtos em mais de 50 categorias, com entregas em todos os municípios do país. No momento, a empresa conta com 12 centros de distribuição e mais de 150 polos logísticos.
Com a meta de ampliar suas operações em 2025, a Amazon também vai reduzir as tarifas de todos os seus serviços logísticos no Brasil, incluindo o FBA, a partir de 1º de agosto de 2025.
As tarifas do FBA serão diminuídas em até 89% para produtos com preços abaixo de R$ 79,00, com uma tarifa fixa entre R$ 5,95 e R$ 6,35 por unidade, independentemente do tamanho ou peso. A promoção é válida até 31 de janeiro de 2026. Já para produtos com preços entre R$ 79,00 e R$ 100,00, as tarifas cairão até 39%. Para itens entre R$ 100,00 e R$ 120,00, haverá uma redução de até 30%, enquanto produtos de R$ 120,00 a R$ 150,00 terão uma redução de até 20%. Para itens de R$ 150,00 a R$ 200,00, o desconto será de até 12%.
No caso do FBA Onsite, as tarifas para produtos entre R$ 79,00 e R$ 100,00 serão reduzidas até 40%. Para faixas de R$ 100,00 a R$ 120,00, a redução será de até 30%, enquanto produtos de R$ 120,00 a R$ 150,00 terão um desconto de até 24%. Para itens de R$ 150,00 a R$ 200,00, a diminuição será de até 12%.
Por fim, o serviço DBA – Delivery by Amazon terá tarifas reduzidas em até 66% para produtos de R$ 79,00 a R$ 100,00. Já os itens entre R$ 100,00 e R$ 120,00 terão uma redução de até 60%. Produtos entre R$ 120,00 e R$ 150,00 terão um desconto de até 55%, e os de R$ 150,00 a R$ 200,00 terão uma queda de até 49%.
Com a redução de tarifas na logística, a companhia pretende diminuir os custos operacionais para os vendedores, atrair novos empreendedores ao e-commerce e melhorar a experiência de compra para os clientes, com mais opções de produtos e preços mais acessíveis.
De acordo com a diretora da FBA, a decisão da Amazon também considerou as dores enfrentadas por muitos empreendedores na hora de controlar os custos.
"Ao reduzir as tarifas, conseguimos tornar as condições mais vantajosas para eles, permitindo que tenham uma margem mais saudável. O aumento do volume de vendas contribui para diluir os custos fixos e melhora as condições de envio, o que reforça a eficiência de todo o sistema. Isso, por sua vez, os ajuda a expandir o negócio e beneficia o consumidor final".
Por outro lado, a abordagem da empresa também ocorre diante da crescente concorrência de outras companhias como Mercado Livre e Shopee no comércio eletrônico. No início de junho, o Meli reduziu o preço mínimo de produtos elegíveis para frete grátis de R$ 79 para R$ 19. Nesse período, a varejista online também havia anunciado uma redução de até 40% nos custos de envio para vendedores em sua plataforma e outra de 17% nos custos do frete para novos vendedores.
Diante da pressão do mercado, Julia Salles ressalta que a estratégia da Amazon é uma resposta ao desafio que o e-commerce enfrenta no mundo inteiro para reduzir o valor dos produtos e deixar o online mais atraente ao consumidor.
"A questão é como oferecer itens mais baratos, com preços abaixo de R$ 79, por exemplo, mantendo um preço final para o consumidor que seja atrativo. Durante um tempo, quando o valor do produto era muito baixo, vários consumidores acreditavam que o e-commerce não era a melhor alternativa devido ao custo do frete. Nesse caso, o comércio local se tornava mais vantajoso", explica a executiva. "Mas, trabalhamos para tornar viável essa situação, ajustando tarifas e oferecendo condições mais favoráveis tanto para os vendedores quanto para os consumidores."
A Amazon vai absorver os custos desta ação. A executiva não forneceu estimativas para os novos desembolsos, mas reforçou a segurança da empresa nos impactos de longo prazo: "Com a redução de tarifas, abrimos mão de uma parte da margem para garantir que o vendedor tenha uma operação mais saudável, o que, por sua vez, gera mais volume de vendas. Assim, conseguimos viabilizar o processo. Esse investimento, portanto, é uma parte essencial da estratégia".