Alexandra Borges, fundadora do Café do Barão: "A dor pode virar propósito. Com fé, método e coragem, o improvável nunca é impossível”,
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 23 de junho de 2025 às 14h27.
Última atualização em 23 de junho de 2025 às 14h52.
“Não importa onde você começa, mas sim como decide caminhar”, diz a empresária Alexandra Borges. A frase carrega a força de quem conhece, na prática, o significado de recomeçar. Resgatada de um lixão em Jacareí, interior de São Paulo, com apenas um ano e dez meses, ela enfrentou a pobreza extrema, um divórcio precoce e uma doença grave até alcançar o sucesso. Hoje, administra três operações no ramo de alimentação e projeta faturar R$ 8 milhões em 2025.
Dona de franquias da Casa do Pão de Queijo e do Café do Ponto, além de sua própria marca, o Café do Barão, transformou sua história de vida em exemplo de superação e inspiração. No dia 24 de junho, lança a autobiografia Improvável não é impossível – Conheça a jornada de quem transformou obstáculos em resultados extraordinários na área de vendas (Trend Editora), em São José dos Campos, onde mora atualmente. A obra narra sua caminhada, que também inspira palestras corporativas e é marcada por diversos capítulos de superação.
“Minha infância não começou no berço: eu era uma bebê brincando com sacos de lixo e comendo restos de comida”, lembra. “Fui resgatada por uma lavadeira chamada Sebastiana, que já tinha nove filhos e um coração do tamanho do mundo. Foi ela quem me deu amor, dignidade e um novo sobrenome”, diz.
Alexandra aprendeu desde cedo a enxergar valor em cada oportunidade. “A escassez me ensinou isso. Entendi que o trabalho era meu passaporte para a liberdade, e que não poderia esperar pela sorte: era preciso agir, servir e entregar o meu melhor”, afirma. Ela lembra de dois episódios marcantes, como quando tinha oito anos e viu a mãe adotiva chorar por não ter dinheiro para comprar uma torneira nova. “Fui à rua com uma bacia de coxinhas mal feitas – que eu chamava de bolinhas de frango com amor. Não vendi nada na primeira tentativa, mas voltei com uma nova estratégia: contar nossa história e me conectar ao coração das pessoas. Vendi tudo, inclusive o pote”, diz. Em outra ocasião, aos 13 anos, viu na chuva uma oportunidade. “Vesti uma capa, abri os guarda-chuvas da loja onde trabalhava como balconista e fui para a calçada. Vendi todo o estoque e fui efetivada. Esses episódios me ensinaram que vender não é empurrar produtos e, sim, conectar-se com necessidades reais”.
O tempo passou e ela seguiu resiliente. Aos 22 anos, logo após o divórcio e com dois filhos pequenos, voltou para a casa da mãe e descobriu uma doença grave enquanto vendia sapatos para uma médica que notou uma saliência em seu pescoço. “Fui diagnosticada com dois nódulos na tireoide, que comprimiam minhas cordas vocais. Meu metabolismo estava desregulado, com risco de trombose. O tratamento inicial, com 12 comprimidos por dia, não funcionou. Precisei usar uma medicação mais forte, que deixava meu corpo com radioatividade. Tive uma queda intensa de cabelo e muito ganho de peso”, lembra.
Mesmo com a autoestima abalada, seguiu trabalhando. A postura firme abriu portas: foi contratada como supervisora de franquias, coordenando dezenas de gerentes de grandes marcas como Oscar Calçados, Arezzo e Victor Hugo. “Consegui comprar carro e apartamento, e para custear a faculdade de medicina dos meus filhos, aceitei gerenciar a abertura de uma loja-âncora atacadista em Angola, em 2010.”
De volta ao Brasil, decidiu que era hora desengavetar um sonho antigo: empreender. Para isso, fez diversos cursos no Sebrae, como o Empretec, e estudou o mercado para entender quais segmentos eram mais viáveis. Optou por iniciar com franquias porque já vinham com estrutura e processos validados. “Eu não podia errar; estava usando economias de cinco anos de trabalho duro”.
Em 2015, adquiriu uma unidade da Casa do Pão de Queijo e, seis meses depois, uma do Café do Ponto. Em 2024, as duas franquias atenderam 150 mil clientes e registraram alta de 23% no faturamento anual. Este ano, deu um novo passo e inaugurou sua marca própria: o Café do Barão. “Fiz sondagens por dois anos, sempre recebendo negativas do antigo proprietário do ponto. Até que um dia ele aceitou conversar. Foram seis meses de negociações até concretizarmos o negócio”.
A ideia inicial era instalar mais uma franquia, porém, ao vivenciar o dia a dia da loja, percebeu que os clientes valorizavam o estilo colonial, que remetia a fazendas e casarões antigos. A iniciativa tem dado certo e já registra faturamento mensal 20% acima do previsto. “Não vendemos apenas café – oferecemos experiência, acolhimento e relacionamento. O Café do Barão é uma viagem aos sabores e memórias do interior”, afirma.
A meta para 2025 é faturar R$ 8 milhões somando todas as operações.
Para Alexandra, alcançar bons resultados exige mais do que coragem, determinação e força de vontade. É preciso investir em frentes como experiência do cliente, inovação, equipe engajada, produtos de alta qualidade e localização estratégica. Além disso, o planejamento é essencial para garantir a saúde financeira do negócio.
Para administrar os três empreendimentos e garantir que a filosofia “encantar pelo servir” se mantenha em todos, desenvolveu o método M.E.T.A.:
- Movimento para conexão genuína com o cliente;
- Escutar atentamente para entender as dores e necessidades do cliente;
- Transformar necessidades em soluções e fechar a venda com encantamento;
- Acompanhar continuamente no pós-venda para criar vínculos e fidelização.
“Durante muito tempo, achei que o sucesso não era para mim. Decidi escrever o livro para dizer que sim, é possível – especialmente para mulheres que, como eu, começaram na escassez. A dor pode virar propósito. Com fé, método e coragem, o improvável nunca é impossível”, finaliza.