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Esta varejista gaúcha de R$ 2 bi quer um novo cliente: o concorrente

Fundada em São Jerônimo, no interior do Rio Grande do Sul, e prestes a completar 70 anos, a Lebes consolidou uma rede de mais de 300 lojas físicas nos três estados da região

Otelmo Debres, do Grupo Lebes: "agora queremos mais do que multiplicar lojas" (Leandro Fonseca/Exame)

Otelmo Debres, do Grupo Lebes: "agora queremos mais do que multiplicar lojas" (Leandro Fonseca/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 24 de outubro de 2025 às 11h46.

Última atualização em 24 de outubro de 2025 às 18h30.

Para além das gigantes varejistas nacionais, há negócios locais que já operam na casa do bilhão — e seguem crescendo. É o caso da Bemol, que domina parte do varejo na Amazônia, e da Gazin, referência no Centro-Oeste. No Sul, um nome que simboliza esse avanço é a Lebes.

Fundada em São Jerônimo, no interior do Rio Grande do Sul, e prestes a completar 70 anos, a Lebes consolidou uma rede de mais de 300 lojas físicas nos três estados da região.

Começou com roupas e eletrodomésticos para as classes C e D, e hoje está em um novo estágio: anunciou nesta semana sua transição para o Grupo Lebes, reunindo sete unidades de negócio - para muito além do varejo. Tem logística, crédito, tecnologia e indústria.

O reposicionamento foi formalizado internamente, mas vinha sendo desenhado desde 2015, quando Otelmo Drebes assumiu o comando da companhia no lugar do pai, Otélio Drebes. Agora, com uma estrutura mais robusta e diversificada, a meta é alcançar 2 bilhões de reais em faturamento até 2026.

"Temos orgulho de nossa origem familiar, mas agora queremos mais do que multiplicar lojas. Estamos construindo uma plataforma que integra toda a cadeia, da produção ao cliente final", afirma Drebes. “Essa integração potencializa o negócio, reduzindo custos e oferecendo vantagens competitivas.”

Para sustentar essa expansão, a companhia já investiu 500 milhões de reais em um novo parque logístico em Guaíba, projetado para abrigar operações da própria Lebes e também de outras empresas. O plano é gerar até 3.000 empregos diretos, ampliar a base de serviços e consolidar o grupo como uma das maiores estruturas privadas da região.

Um grupo de sete braços — e uma estratégia de controle

A transformação da Lebes em um grupo empresarial é mais do que uma mudança de nome.

A estrutura agora reúne sete unidades de negócio que se complementam em diferentes etapas da cadeia:

  • varejo
  • indústria de vestuário
  • logística
  • tecnologia
  • serviços financeiros
  • cobrança
  • fundo de investimentos.

No varejo, a operação segue com mais de 300 lojas físicas — nos formatos tradicional, express e life store — além do e-commerce. No segmento industrial, a Lebes Indústria do Vestuário é responsável pela produção de mais de 800.000 peças por ano, abastecendo as lojas com as marcas próprias Vestile e Debrim.

O braço logístico do grupo é dividido em duas frentes. A primeira é a IntechLog, focada em inteligência para gestão de frota, rotas e automação. A segunda é o Ellosul, o parque logístico de 63 hectares em Guaíba, que inclui sete pavilhões — seis para locação, inclusive para potenciais concorrentes, e um exclusivo para o centro de distribuição da própria Lebes.

Já na área financeira, o grupo reúne a Lebes Financeira, que cuida do financiamento de compras; a Lebes Cobrança, que administra a carteira de clientes; e um FIDC, fundo de investimento em direitos creditórios, que oferece mais autonomia e liquidez para a operação. Essa estrutura é especialmente relevante para uma empresa cujo modelo de negócios sempre esteve atrelado ao crediário.

“A estrutura permite que a gente tenha mais controle do processo como um todo. Produzimos, financiamos, entregamos. Isso nos protege em momentos de instabilidade e melhora a experiência do cliente, porque a jornada é integrada”, afirma Drebes.

Qual é a história da Lebes

Um centro logístico de meio bilhão de reais

A peça mais visível dessa virada estratégica é o Ellosul, o novo centro logístico da companhia. Localizado a 10 minutos da sede da empresa, o parque tem 63 hectares e deverá atingir 264.000 metros quadrados de área construída nos próximos anos. O primeiro pavilhão, que já está em operação, tem 38.000 metros quadrados e abriga o novo CD da rede.

A decisão de investir em uma operação desse porte não veio de uma oportunidade pontual, mas de um planejamento iniciado há cinco anos. “O centro de distribuição de Gravataí já não dava conta da demanda. Criamos o ecossistema logístico porque identificamos uma falta de estrutura na região”, diz o CEO.

Além de atender à própria operação, os próximos pavilhões serão alugados para empresas interessadas em atuar na região. A expectativa da empresa é que o Ellosul também funcione como uma plataforma de serviços — com restaurante, hotel, posto de gasolina, atacarejo e até heliponto, planejados para os próximos anos.

A localização também é estratégica. O terreno fica em uma das principais vias de escoamento de carga entre o Sul e o restante do país, com ligação facilitada ao Uruguai. “É uma área 90% duplicada, onde há pouca oferta de infraestrutura. Queremos atender motoristas e empresas que precisam de um ponto qualificado, sem precisar entrar em Porto Alegre”, afirma Drebes.

Além do impacto operacional, o Ellosul é uma aposta para gerar caixa no médio prazo. Com os aluguéis e serviços logísticos, o grupo abre uma nova fonte de receita, menos exposta à variação de consumo. “Estamos construindo algo com visão de longo prazo. Não é um CD apenas, é uma plataforma de negócios.”

Tecnologia para escalar e ganhar eficiência

A digitalização é outro pilar do novo Grupo Lebes. Com mais de 400 processos internos automatizados, a companhia vem aplicando inteligência artificial, automação e apps integrados em todas as etapas da operação — do estoque ao atendimento no caixa.

Na operação de loja, os vendedores utilizam o app Resolve, que acessa em tempo real o estoque, o histórico de compras e o limite de crédito do cliente. Além disso, a rede instalou totens de autoatendimento e começou a usar biometria facial para autenticar pagamentos, eliminando a necessidade de cartão físico ou documentos.

Na retaguarda, áreas como RH, financeiro e TI também foram automatizadas. Isso libera as equipes para tarefas mais analíticas e reduz erros operacionais. “É um esforço constante. Sempre tem mais para otimizar, mas já conseguimos ganhos reais de produtividade”, diz Drebes.

Com esse modelo, a empresa busca não apenas crescer, mas escalar com controle — ampliando receita sem perder margem. O desafio, agora, é consolidar a operação como grupo e preparar o terreno para uma expansão que pode, por que não, ultrapassar os limites do Sul.

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