Lika Dias, CFO, e Inácio Marchette, CEO da Ekobé, e ao centor, Falcão, jogador de fustal e embaixador da marca: “Hoje, 93% da nossa produção é para terceiros, mas fomos nós que lançamos a goma de creatina e whey no Brasil” (Ekobe/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de agosto de 2025 às 10h55.
Para quem achava que creatina era só pó e whey vinha no scoop, o mercado brasileiro agora mastiga proteína como bala.
No interior de São Paulo, a Ekobé prepara a maior linha de produção de gomas da América Latina — e a novidade não é só o formato. O investimento de 10 milhões de reais vai quadruplicar a capacidade de fabricação e colocar no mercado mais 5 milhões de frascos por ano, já a partir de 2026.
O formato, que une sabor e conveniência, já conquistou 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos e domina prateleiras nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, começou a ganhar tração em 2023 com versões sem açúcar, abrindo caminho para supermercados e grandes redes de farmácia.
No centro dessa tendência está a Ekobé, pioneira no Brasil ao lançar creatina e whey protein em goma — e que hoje lidera a produção nacional nesse segmento, inclusive para outras marcas. Em 2025, a empresa deve produzir mais de 3,5 milhões de frascos, contra pouco mais de 2,5 milhões no ano anterior.
O setor global de gomas nutracêuticas movimentou 16,3 bilhões de dólares em 2024 e deve chegar a 42 bilhões até 2028, segundo a Grand View Research, com crescimento anual acima de 12%. No Brasil, o avanço estimado é de 8% a 10% ao ano — um ritmo sólido, mas ainda abaixo da média global, e que sinaliza espaço para aceleração à medida que o formato se populariza.
“O mercado de gomas no Brasil ainda é muito jovem. Começou a acontecer de verdade em 2023 e tem muito espaço para crescer”, diz Inácio Marchette, CEO da Ekobé.
A história da Ekobé começa longe das linhas de produção. E também longe da musculação.
Inácio Marchette fundou a empresa em 2007 dentro de uma rede de clínicas especializadas em transtornos compulsivos — como TOC, compulsão alimentar e vícios. Antes disso, trabalhava no setor de saúde desde 1986.
Os suplementos faziam parte dos tratamentos e ajudavam a melhorar resultados. A demanda surgiu dos próprios pacientes e familiares, que queriam continuar usando os produtos em casa, de forma prática.
Inicialmente, a produção era terceirizada. A fábrica própria só veio em 2012. Desde então, a aposta em inovação virou marca registrada: além de cápsulas, líquidos e pós, a empresa foi a primeira no Brasil a colocar creatina e whey protein no formato de goma.
“Hoje, 93% da nossa produção é para terceiros, mas fomos nós que lançamos a goma de creatina e whey no Brasil”, diz Marchette.
Essas inovações abriram portas em novos canais e deram visibilidade à marca própria, que ainda representa 7% da produção. O salto recente veio em 2023, quando as gomas sem açúcar passaram a responder por boa parte das vendas.
Em 2024, a produção totalizou 2,5 milhões de frascos. Em 2025, a projeção é superar 3,5 milhões. Outro trunfo foi a capacidade de manter qualidade e estabilidade em diferentes climas, permitindo que o produto seja vendido do Sul ao Norte do Brasil.
O investimento atual da Ekobé é estratégico: a nova planta de 2.154 metros quadrados em Capela do Alto (SP) vai abrigar o maior equipamento de produção de gomas da América Latina, com capacidade quatro vezes maior que a atual.
A expansão permitirá fabricar 5 milhões de frascos adicionais por ano. O início da operação está previsto para janeiro de 2026, com expectativa de crescimento de 70% já no primeiro ano completo.
Além de volume, a nova estrutura deve reduzir prazos de entrega e dar mais flexibilidade para atender grandes contratos. A empresa também reforça que seguirá padrões de sustentabilidade, em linha com exigências de clientes no Brasil e no exterior.
A projeção é crescer 30% em 2027 e estabilizar entre 10% e 15% ao ano até 2030. A diversificação de produtos deve manter o fôlego, com foco em formatos personalizados e funcionais.
Hoje, a Ekobé exporta para Argentina, Dubai e China, e já negocia entrada em outros mercados. “O Brasil ainda não está em muitos lares com suplementos, mas o potencial é enorme”, afirma Marchette.
Nos Estados Unidos, 37% dos consumidores já preferem gomas a cápsulas. A virada começou em 2019 e, quando os brasileiros voltaram a viajar após a pandemia, perceberam que prateleiras antes dominadas por cápsulas e pós agora eram ocupadas por gomas de vitaminas, minerais e proteínas.
Essa tendência atravessou fronteiras e encontrou no Brasil um mercado em expansão. Em 2021, as vendas de suplementos em goma cresceram 23% no mundo, atingindo 2,63 bilhões de dólares em 52 semanas. A categoria que mais cresce inclui produtos de bem-estar mental, digestivo, sono e beleza, com destaque para prebióticos e probióticos — estes últimos avançando 18,7% em vendas em 2021.
No Brasil, a aceitação ganhou força quando as gomas perderam o açúcar. Antes disso, a recepção foi morna: “O mercado não aceitou a versão com açúcar. Tivemos que voltar para o P&D e reformular tudo”, afirma Marchette. Hoje, a regra é clara: açúcar só nos cafezinhos da fábrica.
A nova fórmula abriu portas para canais de venda como supermercados e hipermercados. A empresa também garante que as gomas têm estabilidade térmica, resistindo desde os 18 °C de um inverno paulista até os 35 °C do verão amazônico, sem derreter.
O apelo é simples: sabor agradável, praticidade e funcionalidade em um único produto. E, ao contrário do que muitos pensam, não é só público jovem que compra: idosos e crianças também estão no radar, atraídos pela facilidade de consumo.