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O plano milionário de MC Hariel para mudar o funk de dentro da favela

A Zaori é a evolução da Xaolin Records, gravadora do funkeiro paulistano que, aos 27 anos, aposta em nova produtora cultural para crescer como empresário

MC Hariel: aos 27 anos, jovem funkeiro já é dono do próprio selo musical, a Xaolin Records (Edição EXAME)

MC Hariel: aos 27 anos, jovem funkeiro já é dono do próprio selo musical, a Xaolin Records (Edição EXAME)

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 7 de julho de 2025 às 09h42.

Última atualização em 7 de julho de 2025 às 09h44.

“A minha Ferrari virou cimento e pedra”, resume MC Hariel sobre o investimento pessoal de R$ 2,5 milhões que resultou na inauguração da Zaori, sua nova produtora cultural sediada na zona norte de São Paulo. Aos 27 anos, o funkeiro paulistano assume também o papel de empresário, criando um negócio voltado para artistas em início de carreira — com prioridade para jovens periféricos que ainda não encontraram espaço na indústria musical.

A Zaori foi inaugurada oficialmente em 1º de julho e é resultado direto de um movimento iniciado em 2021, quando Hariel decidiu reinvestir o advance — pagamento adiantado de contrato — que recebeu da gravadora. O dinheiro, que poderia ter sido usado para ostentar carros de luxo, foi aplicado na construção de um centro com estúdios, estrutura de gestão de carreira e formação profissional.

“Outros MCs da minha geração compraram Ferrari e Porsche. Eu construí uma casa que abriga artistas”, afirma o paulista. “Esses dois milhões e meio foram todos do meu bolso, sem sócio, sem apoiador. É um investimento de longo prazo — estou pensando em retorno só para daqui cinco anos”.

A Zaori funciona como uma "fase 2" para talentos que já passaram pela curadoria da Xaolin Records, selo musical fundado pelo artista com o objetivo de identificar e formar novos nomes do funk, rap e trap. Após um processo seletivo que envolveu mais de 40 jovens, Hariel selecionou três nomes para integrar a primeira leva da produtora: Beatriz Hinário, artista de rap e hip hop; MC Hack, com trajetória no funk e passagens por diferentes vertentes do gênero; e KS, nome das batalhas de rima e com forte presença no trap.

Da periferia para o palco

Nascido na Vila Aurora, zona norte da capital paulista, Hariel Denaro Ribeiro começou a compor aos 11 anos e trabalhou como entregador de pizza, lavador de carros e operador de telemarketing até lançar seu primeiro hit, Passei Sorrindo, em 2014. Desde então, acumulou bilhões de streams e firmou-se como um dos principais nomes do funk consciente, estilo que aborda temas como desigualdade social e superação.

“É clichê, mas é verdade: não faço música por dinheiro. Se fosse por isso, já teria desistido”, diz o MC.

Apesar da fama, Hariel afirma que se reconhece mais como artista do que como executivo. “Hoje sou 70% artista, 30% empresário. Mas estou estudando: leio livros, vejo vídeos, quero aprender”, diz. A Zaori, segundo ele, foi pensada não como um empreendimento competitivo, mas como um espaço para formar talentos em vez de disputá-los no mercado.

Negócio com propósito

A estrutura da Zaori inclui agenciamento de shows, criação de conteúdo e formação sobre direitos autorais, com aulas e cartilhas voltadas à profissionalização de artistas iniciantes.

Segundo Hariel, a intenção é garantir que os participantes compreendam os mecanismos da indústria e não apenas gravem músicas, mas construam carreira com autonomia. “A Zaori não é só estúdio, é uma escola de música periférica”, resume.

A expansão da produtora será feita em etapas. Ainda sem sócios, Hariel afirma que pretende abrir novas rodadas de investimento apenas quando a operação estiver redonda: “Não quero vender participação antes de mostrar eficiência. Estou estruturando tudo para, quando o momento certo chegar, poder levantar mais capital e escalar com responsabilidade”.

Ecossistema próprio

O funkeiro afirma que recebe músicas e vídeos com frequência de jovens desconhecidos e já estabeleceu dinâmicas como campings femininos (quando artistas se reúnem para compor), com inscrições de meninas de Londrina, Ribeirão Preto e outros estados. A triagem é feita com base em talento, dedicação e potencial de desenvolvimento.

“Hoje, se eu encontro um moleque bom na quebrada, já tenho onde colocá-lo. Antes, eu só podia dizer: ‘parabéns, você é bom’. Agora posso oferecer estrutura”.
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