<strong>Empreendedoras brasileiras: metade das vencedoras no BRICS Women's Startup Contest 2025</strong>
EXAME Solutions
Publicado em 7 de julho de 2025 às 14h31.
A doutora em Agricultura Dana Meschede se graduou em Agronomia em 1996, numa turma com apenas duas mulheres. Quase 30 anos depois, ela lembra que construir carreira num ambiente tão predominantemente masculino exigiu um esforço acima do normal para alcançar o sucesso. “Eu fui para a área de plantas daninhas, que é uma área onde só tinha homem, frequentava eventos em que eu era a única mulher, isso era o normal. Então não é um ambiente fácil, a mulher no agro tem que ser três vezes melhor para poder ser inserida”, diz.
As evidências mostram que ela foi. CEO da Dana Agro, a empresária foi uma das premiadas no BRICS Women's Startups Contest, celebrado na noite do último sábado, dia 5, no Morro da Urca, no Rio de Janeiro. A iniciativa, que aconteceu dentro do encontro do BRICS, está na sua terceira edição. Foram destacadas 18 entre mais de mil mulheres inscritas, em seis categorias.
Do total de premiadas, nove são brasileiras, o que evidencia a força do empreendedorismo feminino no país, especialmente em negócios com base tecnológica. O evento foi organizado pelo Sebrae em parceria com a Aliança Empresarial de Mulheres do BRICS (WBA) e reuniu autoridades como a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e a deputada federal Benedita da Silva.
“O objetivo é jogar luzes sobre as mulheres que estão na área da tecnologia. É uma área ainda muito árida para as mulheres, muito hostil, e a nossa ideia com esse concurso é exatamente lançar luz sobre mulheres que estão inovando, que estão com empresas de base tecnológica, que estão usando a criatividade para fazer negócios, então nós estamos muito felizes”, comemora Margarete Coelho, diretora de administração e finanças do Sebrae Nacional.
Dana foi premiada na categoria que avaliou startups das áreas de Agricultura e Segurança Alimentar. A Dana Agro é a desenvolvedora do primeiro bio herbicida no Brasil. “É uma inovação que o mundo inteiro está precisando, porque vai reduzir o uso de pesticida no ambiente”, explica.
Outra brasileira premiada foi Nina Silva, na área da Educação. A empresária e investidora é CEO do Movimento Black Money & D'Black Bank, que busca fortalecer a economia da comunidade negra, incentivando o consumo de produtos e serviços de empreendedores negros e a circulação de dinheiro dentro da própria comunidade. “É o reconhecimento de um trabalho que não vem somente da minha pessoa, vem de grupos e mais grupos que atuam para a inclusão e educação no país há muitos anos, que é a transformação social que a gente precisa”, afirma.
“Eu não encontrei as portas abertas para que as minhas capacidades e entregas fossem comprovadas e participassem da dinâmica de poder. Então eu construí os meus próprios castelos, com as minhas dinâmicas de poder, que são a tecnologia ancestral e a sabedoria coletiva de construção de cooperação”, diz Nina. Segundo dados do próprio movimento, mais de 40 mil pessoas já foram impactadas pelo projeto, sendo 20 mil em desenvolvimento, além da distribuição de R$ 5 milhões em capital semente para pequenos negócios.
A deputada Benedita da Silva, que tem um longo histórico de trabalho em defesa dos direitos femininos, participou da premiação e destacou a importância de reconhecer o empreendedorismo feminino, que sempre existiu. “Nós sempre fomos empreendedoras. E isso não mudava só a nossa vida, mudava a vida de muita gente, mudava a vida das famílias. Então é importante que haja hoje esse reconhecimento”, afirmou.
Pamella Faustina Campos, de Minas Gerais, também foi reconhecida na categoria Comércio, Serviços e Transformação Digital. Sua startup, TCX Creative Solutions, desenvolveu um software industrial que antecipa erros de processo. “Em três meses de implementação, um cliente conseguiu economizar R$ 1 milhão porque não ocorreram erros nem desperdícios”, contou.
A gerente de empreendedorismo feminino, diversidade e inclusão do Sebrae Nacional, Geórgia Nunes, reforçou a importância do prêmio. “A gente percebe nas nossas pesquisas que a mulher ainda empreende mais por necessidade do que por por interesse, com estudo e com planejamento. Elas empreendem por necessidade porque, principalmente após a maternidade, elas não conseguem retornar ao mercado de trabalho. E muitas acham que o que estão fazendo é um bico, é algo para ajudar na renda familiar. E na verdade elas estão empreendendo”, constata. “O que o Sebrae tem buscado fazer é mostrar que elas podem empreender não apenas por necessidade e orientá-las a planejar tanto a formalização do seu negócio, como a ampliação dele”, conclui.
Confira a lista completa das vencedoras por categoria:
Saúde e bem-estar
– Anna Mesheryakova – Third Opinion AI, Rússia
– Kanchan Gupta – Haxor, Índia
– Qu Fei – Changqing Linghang Digital Medical Economy Research Institute, China
Agricultura e segurança alimentar
– Dana Katia Meschede – Dana Agro, Brasil
– Estefania Campos – B. Nano, Brasil
– Christine Masaiti – AvoEcoPower, África do Sul
Educação e desenvolvimento de competências
– Nina Silva – Black Money Movement, Brasil
– Sandra Marchi – See Color, Brasil
– Mahadi Mosia – LiftUP, África do Sul
Energia, infraestrutura e mobilidade
– Nataly Parga – SQUAIR, Brasil
– Natalia Giampietri – PayGas, África do Sul
– Mekides Minlike – Ablenee Energy Solutions, Etiópia
Comércio, serviços e transformação digital
– Pamella Faustina Campos – TCX Creative Solutions, Brasil
– Ana Raquel Calhau Pereira – NexAtlas, Brasil
– Argenide Ghini Servilha – Metavila, Brasil
Desenvolvimento sustentável e soluções climáticas
– Marbella Fonsêca – Microciclo, Brasil
– Rituparna Das – Arosia Water, Índia
– Xue Wang – Botree Recycling Technologies, China