Repórter
Publicado em 7 de agosto de 2025 às 14h53.
Última atualização em 7 de agosto de 2025 às 14h57.
O filme de 1985 do americano Terry Gilliam, a distopia futurista Brazil — que não faz referência direta ao país, mas ao gingado da música brasileira —, traz um protagonista, Buttle, que é preso erroneamente depois que um sistema automatizado de identificação do governo ditatorial o confunde com um bandido foragido. Roteiros de ficção científica costumam prever tecnologias que mais tarde se tornam rotineiras. Foi assim com a inteligência artificial, com os carros autônomos, com os smartphones, todas essas inovações imaginadas previamente em livros e no cinema.
No mundo de Brazil, ninguém é vilão. Não há o político megalomaníaco, o gênio do mal, o chefe de Estado paranoico. O sistema opera sem rostos, sem suspense e sem intenção de errar. Essa obra, que dispensa atualização em sua realidade, está em relançamento em versão restaurada 4K, com trilha sonora surround 2.0.
Assisti-lo hoje, em 2025, não parece um exercício nostálgico — parece um espelho. Há algo profundamente familiar nesse futuro sem futuro. Não só pelo papel timbrado, pelo tubo pneumático e pela ausência quase cômica do digital, mas pela lógica que rege tudo: a lógica da eficiência sem alma. O erro da máquina que condena alguém à prisão não é um colapso. É apenas o próximo passo.
Gilliam inventou um mundo onde a catástrofe acontece sem pressa. Um mundo que colapsa para dentro, não com explosões, mas com formulários. O tipo de distopia que se disfarça de rotina — e que, por isso, é quase impossível de perceber de dentro.
Brazil não é um aviso. É um diagnóstico.
E a pergunta que ele nos deixa não é “o que fazer?”, mas algo mais incômodo: se tudo estiver errado, mas parecer estar funcionando — quem cortará o fio da burocracia.