Caso Eloá: repercussão do sequestro levou à identificação de um criminoso foragido desde 1993 (Netflix/Divulgação)
Estagiária de jornalismo
Publicado em 13 de novembro de 2025 às 11h54.
O Caso Eloá parou o Brasil em outubro de 2008. A tragédia da adolescente de 15 anos que foi mantida em cativeiro por 100 horas e assassinada pelo ex-namorado, de 22 anos, foi por uma semana a principal notícia de boa parte dos telejornais do país.
Mas um desdobramento inesperado do caso, na verdade, foi a resolução de outro caso criminal, ocorrido, à época, 17 anos antes, em Alagoas.
Em dezembro de 2009, Everaldo Pereira dos Santos, o pai de Eloá, foi preso em um sítio em Maceió, após mais de um ano desaparecido.
Pai de Eloá: Everaldo Pereira foi identificado pela polícia; acusado de quatro assassinatos, ele foi sentenciado em 1993 (Polícia Civil / Alagoas/Reprodução)
Na década de 1990, Everaldo era cabo da Polícia Militar em Alagoas.
Nessa época, existia um grupo de extermínio conhecido como Gangue Fardada, responsável por vários crimes como pistolagem, roubos de carros e assaltos no estado. O grupo tinha esse nome devido ao grande número de policiais envolvidos. Das 42 pessoas presas até 1998, 32 eram PMs de várias patentes.
Um braço de atuação famoso da Gangue era a execução de políticos. Entre 1993 e 1998, oito políticos alagoanos foram mortos pelo grupo, segundo reportagem da Folha de S. Paulo de 1998. Os assassinatos podiam ser pagos, o que fez eles serem conhecidos como "pistoleiros de aluguel".
Naquele mesmo ano, o motorista José Carlos Pereira, acusado de envolvimento com o grupo, revelou em depoimento à Justiça a "tabela da morte", com preços para cada tipo de execução: um deputado estadual ou líder político "importante" custava R$ 50 mil, prefeitos custavam R$ 30 mil, vereadores R$ 15 mil e trabalhadores rurais podiam ser mortos por valores entre R$ 50 e R$ 100 mil, segundo a Folha.
De acordo com o promotor de Justiça Luiz Vasconcelos, que falou à Folha em 2009, Everaldo era parte da Gangue Fardada e foi expulso da PM devido ao envolvimento com o grupo de assassinos de aluguel.
O crime que de fato levou à condenação de Everaldo Pereira dos Santos em 1993 foi o assassinato do delegado Ricardo José Lessa Santos, irmão do ex-governador alagoano Ronaldo Lessa, e do motorista dele, Antenor Carlota da Silva, em 1991, em Maceió.
Além do crime de 1991, Everaldo também é suspeito por mais duas mortes: a de Celso José Dias, assassinado a tiros em 1990, e a de Marta Lúcia Pereira, sua ex-esposa, em 1992.
"As acusações são fruto de vingança contra a minha pessoa, pois, na ocasião, estava me separando de Marta Lúcia para viver com minha atual mulher, Cristina [Pimentel, mãe de Eloá], o que gerou ódio [das irmãs da ex-esposa] ", afirmou Everaldo em 2008, já foragido, à Folha.
Ao todo, constam quatro homicídios na ficha de Pereira.
Após ser sentenciado a 33 de prisão em 1993, pelos assassinatos cometidos em 1991, Everaldo fugiu de Alagoas.
Disfarçado com o nome de Aldo José da Silva Pimentel, ele passou a viver em Santo André, na grande São Paulo, com sua esposa Cristina e a filha recém-nascida, Eloá Pimentel.
Durante 15 anos, o ex-cabo da Polícia Militar de Alagoas escondeu a verdadeira identidade.
Em Santo André, ele não teve passagem pela polícia por nenhum crime. Trabalhava como segurança e, para não correr o risco de ser identificado, nem mesmo os filhos sabiam do seu passado em Alagoas.
Porém, em 2008, ao ver Eloá em cárcere, o pai passou mal e foi levado ao hospital. Assim como a maior parte dos acontecimentos durante as 100 horas de sequestro, a cena dele entrando na ambulância foi televisionada.
Caso Eloá: o pai da adolescente passou mal e foi levado ao hospital; imagens permitiram à polícia de Alagoas indentificá-lo (TV Globo/Reprodução)
A imagem foi suficiente para que a Polícia Civil de Alagoas reconhecesse Everaldo e iniciasse uma busca. Sabendo da possibilidade de ser pego, ele desapareceu logo depois, tanto é que não estava presente no enterro de Eloá.
O ex-cabo estava foragido desde 1993. Em 2008, ele iniciou outro período de fuga da polícia.
Segundo Everaldo, ele fugiu de carro de Santo André e, passando por diversos estados, chegou a Alagoas e se refugiou com conhecidos. Em entrevista ao Fantástico em 2012, ele afirmou que nunca matou ninguém e que seu julgamento foi injusto.
Segundo a polícia, Santos foi encontrado na casa de um parente no Conjunto Eustáquio Gomes, no bairro do Tabuleiro do Martins, em Maceió, em dezembro de 2009. Desde então, Everaldo está preso.
Durante o julgamento, Lindemberg Alves Fernandes, o assassino de Eloá, foi chamado para depor em defesa ao ex-sogro.