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Gerando Falcões aposta nos games para formar a próxima geração de empreendedores da favela

Em entrevista exclusiva à EXAME, Edu Lyra, CEO e fundador da ONG, e Fernanda Lobo, CEO e Cofundadora da Final Level, detalham como o Favela Gaming pode impactar as periferias e dar um novo fôlego à indústria de jogos

Edu Lyra: CEO e Fundador da ONG Gerando Falcões (Leandro Fonseca/Exame)

Edu Lyra: CEO e Fundador da ONG Gerando Falcões (Leandro Fonseca/Exame)

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 16 de junho de 2025 às 05h43.

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Trabalhar com criação de conteúdo digital se tornou o objetivo profissional de muitos membros da geração Z. Esse sonho também seduz jovens moradores de favelas, que enxergam nos games uma chance de escapar da pobreza. De olho nessa tendência, Edu Lyra, CEO e Fundador da Gerando Falcões, uniu forças com a content tech Final Level em uma iniciativa para inserir jovens de vários cantos do Brasil na indústria de jogos e transformá-los em futuros empreendedores da creator economy.

Lançado em 2023, o movimento Favela Gaming é resultado de uma colaboração entre a Final Level, o YouTube Gaming e a Gerando Falcões, com o propósito de criar oportunidades para jovens de periferias que desejam atuar no setor de jogos eletrônicos. A proposta envolve ações com foco educacional, cultural e competitivo. O objetivo central é fomentar o desenvolvimento de novos talentos e ampliar a presença de representantes das favelas no cenário de games. Seja como competidores de torneios e criadores de conteúdo, seja como desenvolvedores.

De acordo com a ONG, em dois anos de operação, o Favela Gaming já beneficiou mais de 30 mil jovens de periferias e favelas do país. Agora, a meta é impactar 60 mil pessoas.

"Desde que o smartphone ficou democratizado nas favelas, os jovens moradores passaram a ter uma aspiração muito grande em participar da economia criativa, especialmente com a tecnologia", explica Edu Lyra, em entrevista exclusiva à EXAME.

O projeto acompanha as novidades do mercado da inovação, à medida que a indústria de games cresce exponencialmente no Brasil e no exterior. De acordo com dados da consultoria NewZoo, o mercado de jogos online no país movimenta R$ 13 bilhões, com um faturamento superior a R$ 1,2 bilhão anualmente. Para os próximos anos, o otimismo é ainda maior. Segundo um relatório da PwC, a expectativa é que a indústria de jogos no Brasil atinja US$ 2,8 bilhões em receita até 2026.

Para Edu Lyra, que passou a infância em uma favela de Guarulhos (SP), a ação tem um forte significado para muitos gamers e esse cenário pode facilitar o acesso à tecnologia, educação e emprego nas periferias. "Há histórias de pessoas de origem humilde que furaram a bolha social dentro do universo dos games e hoje ganham dinheiro com isso".

O empreendedor também salienta que o trabalho desenvolvido pelo Favela Gaming pode motivar as empresas e executivos do setor a olhar atentamente para as oportunidades que saem das quebradas. "É um movimento que pode aquecer a economia e possibilita que companhias do setor alcancem talentos que geralmente são invisíveis pela sociedade, mas com alto potencial de consumo. Segundo o Data Favela, as favelas brasileiras movimentam cerca de R$ 200 bilhões anualmente."

A necessidade de um empurrão

Fernanda Lobão: CEO e Cofundadora da Final Level - Imagem: Divulgação (Divulgação)

Como o propósito é dobrar o alcance neste ano, o projeto trará inovações, como o Lab de Favela Móvel, um laboratório social itinerante que percorrerá as periferias de diversas cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, João Pessoa e Recife. Nessa operação, líderes comunitários, influenciadores e profissionais do setor de jogos oferecem capacitação prática em tecnologia e inovação.

Em um setor aquecido, são muitas as possibilidades de atuação, que vão além da participação de torneios e produção de conteúdos para internet. O Lab conta com cursos a distância e aulas de iniciação em edição, produção, design, desenvolvimento de jogos, operação de câmeras e transmissão ao vivo. As possibilidades de atuação incluem ainda treinamentos técnicos e áreas como fisioterapia, que integram o ecossistema dos eSports.

A plataforma Favela Gaming disponibiliza 120 horas de aulas gratuitas por meio do YouTube e do site oficial, acessíveis a qualquer pessoa interessada em aprender sobre o setor de games. Embora o foco esteja na juventude, não há restrição de idade para participação.

"Nosso intuito é que abrir portas para todos. Embora o foco esteja na juventude, não há restrição de idade para participação", enfatiza Fernanda Lobão, CEO e Cofundadora da Final Level.

Em 2025, o projeto amplia sua frente educativa com a inclusão de mais 120 horas de conteúdo ministrado por profissionais atuantes na indústria de jogos e eSports."Os cursos contam com a participação voluntária de profissionais do setor, incluindo nomes reconhecidos no cenário de games e eSports. Também faço parte do quadro de professores nas aulas oferecidas pelo Favela Gaming".

A inclusão digital e empregabilidade entre os jovens periféricos também será impulsionada por meio de um programa de bolsas de estudo. Em parceria com a edtech SoulCode Academy, serão oferecidas 5 mil bolsas de estudo para jovens interessados em ingressar no mercado de desenvolvimento de jogos e tecnologia.

"A Gerando Falcões conhece de perto as famílias das comunidades de várias regiões do país. Com isso, podemos direcionar essas bolsas para pessoas que estejam interessadas e que farão melhor aproveitamento. Nossa expectativa, é que esses benefícios tragam ótimas oportunidades de emprego a todos", afirma Fernanda.

Para ter acesso aos cursos profissionalizantes do Favela Gaming, um dos critérios exigidos é que crianças e jovens estejam regularmente matriculados e com bom desempenho escolar. De acordo com a executiva, essa exigência estabelece uma conexão direta com a educação formal e conta com o apoio das famílias na supervisão do comprometimento dos participantes.

"Os estudantes que residem em favelas enfrentam diversas barreiras para aprender, que vão desde segurança até às extremas mudanças do clima. Então, os critérios foram definidos para ajudá-los a ter um bom desenvolvimento e vantagem competitiva na hora de concorrer a uma vaga de emprego ou abrir sua própria empresa no futuro".

Uma geração de protagonistas

Desde seu lançamento em 2023, o Favela Gaming tem gerado impactos expressivos em todos os seus pilares. No aspecto competitivo, mais de 6,7 mil jogadores das favelas participaram dos torneios do Favela Gaming Cup, e 70% dos campeões foram contratados por equipes da Série A da Free Fire World Series Brasil (FFWS), competição oficial de e-sports. No campo educacional, foram oferecidas 120 aulas online gratuitas sobre as principais áreas da indústria de games, com o apoio de grandes nomes como YouTube, Riot Games, LOUD, MIBR, Team Liquid, entre outros. No pilar sociocultural, o projeto estabeleceu um centro social de acesso à tecnologia no Projeto Viela, em São Paulo, e tem como meta expandir com o Lab Móvel.

"Queremos dobrar o alcance, passando de 30 mil para 60 mil participantes, entre gamers e estudantes em formação. Além de envolver jovens em competições e treinamentos para o mercado de trabalho, a proposta é colocar a favela como protagonista no setor de games e na agenda tecnológica".

O Favela Gaming já conta com apoio de grandes empresas como Claro e Petrobras estão entre as apoiadoras do projeto. Para expandir seu tamanho, a Gerando Falcões e a Final Level pretendem fechar novas parcerias com organizações interessadas nesta pauta. Mas até lá, Edu Lyra e Fernanda Lobão apostam nos talentos que estão impulsionados.

"A ideia é transformar as favelas em arenas de games, com jovens criando, produzindo e gerando renda, seja como gamers ou desenvolvendo suas próprias startups. Queremos dar um empurrão na economia local por meio da economia criativa e tecnológica, usando os games como caminho para um futuro com dignidade e sem pobreza", declara o CEO da Gerando Falcões.

Para Fernanda, o futuro do programa é promissor: "As condições de acesso a essa indústria são desiguais, mas por meio do projeto conseguimos criar uma base estruturada para inclusão. Já impactamos milhares de pessoas, e estamos apenas começando. A próxima fase incluirá mais formação, mais competições e mais tecnologia. Nosso sonho é grande, e o compromisso com ele é ainda maior.”

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