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'O Agente Secreto', 'O Último Azul': já dá para sonhar com o segundo Oscar do Brasil?

CCO da Infinity Hill, produtora de 'Argentina, 1985' e a diretora-executiva da VideoFilmes, produtora de ‘Ainda Estou Aqui’, traçam as dificuldades do caminho até o Oscar no Rio2C

O caminho até o Oscar: palestra no Rio2C abre o debate para nova estatueta do Brasil (Arturo Holmes/WireImage/Getty Images)

O caminho até o Oscar: palestra no Rio2C abre o debate para nova estatueta do Brasil (Arturo Holmes/WireImage/Getty Images)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 30 de maio de 2025 às 09h27.

Última atualização em 30 de maio de 2025 às 11h15.

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Rio de Janeiro (RJ)* — Foram 97 anos de espera, mas o Brasil conseguiu trazer para casa a cobiçada estatueta dourada do Oscar de Melhor Filme Internacional no ano passado, com o longa "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles. O prêmio foi o primeiro após pelo menos quatro outras tentativas. E a expectativa é que ele não seja o único.

Em 2025, a busca pela segunda estatueta já aparece ao longe — e tem boas apostas para chegar lá.

As maiores apostas

Dois filmes brasileiros estão no radar como potenciais futuros vencedores da estatueta.

O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, com estreia no Festival de Berlim, que levou o cobiçado Urso de Prata, segundo maior prêmio do evento, é um deles.

Outro longa que aparece na corrida é “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho: o filme arrancou quase 15 minutos de aplauso no Festival de Cannes e saiu de lá com não um, mas quatro prêmios — dois deles, de Melhor Direção e Melhor Ator, na disputa principal.

Mas saber se eles chegarão ao Oscar do próximo ano é algo quase impossível de se prever.

“Não acho que eles [a Academia] tenham preconceito”, diz Mariana Carlota Bruno, diretora-executiva da VideoFilmes, uma das produtoras de “Ainda Estou Aqui”, no painel “Caminhos Para o Oscar” do Rio2C, maior evento de criatividade da América Latina. “É um prêmio norte-americano, feito para premiar filmes norte-americanos, que cresceu demais e se tornou global. De uns anos para cá, estão mais inclusivos, mas os membros votantes ainda são a maior dificuldade para fazer filmes de fora dos Estados Unidos serem vistos”.

No final do ano passado, o Oscar, após muitas críticas sobre a votação, anunciou novas regras para escolher seus vencedores. Uma das novidades é que todos os votantes devem assistir aos filmes indicados nas categorias. A aplicação já será válida para a edição de 2026, prevista para o dia 15 de março.

É um bom passo, e mostra um amadurecimento claro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas diante do cinema global. Mas está longe de ser o suficiente para garantir que um filme de outro hemisfério e que está fora do eixo Europa-Estados Unidos ganhe mais espaço na premiação.

Painel "Caminhos para o Oscar" no Rio2C de 2025 (Rio2C/ Divulgação)

'Ainda Estou Aqui' foi fora da curva, mas abriu o caminho

A jornada até à estatueta dourada, em geral, começa nos grandes festivais.

No caso de "Ainda Estou Aqui", o caminho para o Oscar começou no Festival de Cinema de Veneza, onde o filme foi aplaudido por 11 minutos. Naquele momento, a campanha não passava de especulação, um sonho distante.

"Não há nenhuma forma de saber que um filme vai ser bom 'o suficiente' para a Academia, a gente supõe e os festivais geralmente ajudam. Mas essa ideia de que há um caminho claro e objetivo a se fazer na tal campanha é falsa", comentou Axel Kuschvatzky, CCO da Infinity Hill, produtora dos sucessos "O Segredo dos Seus Olhos", vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2010; "Relatos Selvagens", indicado à mesma categoria em 2015; e "Argentina, 1985", em 2022.

"Um estúdio de Hollywood chegou a descartar 'Relatos Selvagens', porque acreditava que não funcionaria, e no alguns anos depois, recebemos uma indicação à categoria de filmes estrangeiros. É mais uma prova de que o olfato não é tudo para garantir se um filme vai ganhar ou não. Mas, é claro, tem algumas etapas que o aproximam de lá", completa.

Walter Salles vence o Oscar de Melhor Filme Internacional com

Walter Salles vence o Oscar de Melhor Filme Internacional com "Ainda Estou Aqui" (Gavin Bond / Colaborador/Getty Images)

Orçamento pesa na campanha, mas dá resultado

O primeiro e mais importante sinal — que, em geral, definem se o filme vai ter chances de entrar na disputa — é hoje o maior percalço da indústria brasileira: o orçamento.

Fazer cinema custa caro, e isso não é novidade. Ainda que o Brasil conte com uma série de recursos governamentais de fomento ao audiovisual, nem sempre o valor adquirido é suficiente para bancar uma "campanha" de internacionalização da obra.

"Os eventos da campanha — tapetes vermelhos com atores, festas, premières de outros filmes —, publicidade, marketing, transporte dos atores e elenco de um país para o outro, alugar as salas de cinema para exibição do filme antes da estreia oficial, tudo isso tem um custo muito alto. Não o suficiente, como se diz no imaginário popular, para superar o orçamento do filme", acrescenta Kuschvatzky. 

Kleber Mendonça Filho recebe prêmio de Melhor Direção no 78º Festival de Cinema de Cannes (SAMEER AL-DOUMYAFP/AFP)

Em entrevista exclusiva à EXAME, Silvia Cruz, sócio-fundadora da Vitrine Filmes, distribuidora de "O Agente Secreto", revelou que só a campanha de distribuição do filme custará entre R$ 2 e 3 milhões, tendo projeção para ficar ainda mais cara a depender da recepção do filme em outros festivais além de Cannes. É o equivalente, de cara, à cerca de 23% do orçamento total da produção, de R$ 13 milhões.

"O que reduz e muito essa conta são as parcerias, que são coisas que não são cobradas. É um conhecido aqui, outro lá, uma conversa com outra distribuidora e a campanha caminha", argumenta Kuschvatzky.

Parte dessas parcerias é feita na primeira exibição em festivais. A produção de Salles ganhou uma proporção muito maior depois dos prêmios em Veneza e em Toronto — uma agenda importante para começar a entrar no mercado norte-americano.

Foi quando os grandes veículos de mídia que cobrem cinema Variety, Vanity Fair, Hollywood Reporter, The Guardian, New York Times, Deadline, entre outros — assistiram à produção. E escreveram sobre ela.

A agenda de "Ainda Estou Aqui" no ano passado foi, como definiu  Fernanda Torres, uma maratona: mais de 40 festivais, inúmeras exibições da América do Norte à Ásia, uma extensa agenda nos Estados Unidos e a construção da imagem da atriz, que além de repetir os passos da mãe ao ser indicada ao Oscar, conquistou o primeiro Globo de Ouro de Melhor Atriz da história do Brasil.

Bastidores de "Ainda Estou Aqui" (Ainda Estou Aqui/Divulgação)

O impacto do Oscar na bilheteria brasileira

A bilheteria nacional ainda não se recuperou do impacto da pandemia, ainda que tenha dado indícios de que falta pouco para chegar lá: no ano passado, o público e renda do cinema brasileiro mais que dobraram, segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine). A produção de Salles, sozinha, foi responsável por mais de 10% do total da bilheteria arrecadada em 2024.

"Ainda Estou Aqui" foi visto por quase 6 milhões de pessoas e faturou mais de 105 milhões só no Brasil. A bilheteria global está na casa dos US$ 36 milhões, e o filme ainda está em cartaz nos cinemas da Ásia. Estreou na China em abril deste ano.

Muito do sucesso do filme em terras brasileiras veio pela imensa repercussão que a produção teve no exterior. A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro fez com que o filme dobrasse as exibições nos cinemas no início de 2025.

"Os prêmios também são importantes para conquistar público. Depois que a Fernanda ganhou o Globo de Ouro, as pessoas voltaram para a sala de cinema, havia demanda. Vi relatos de jovens que foram ao cinema pela primeira vez", comenta Carlota. E ressalta: "O filme ser visto coletivamente é uma outra experiência, justamente por estar numa sala de cinema. E ele foi pensado, desde o início de tudo, para a telona. Era uma demanda do Walter".

A passagem pelos festivais globais marcou um crescimento intenso de bilheteria no Brasil, que passou dos R$ 60 milhões para os então R$ 105, diluídos ao longo dos três primeiros meses do ano, quando acontecem a maior parte dos principais prêmios de cinema do mundo.

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Essa curva de bilheteria é algo que as novas produções brasileiras esperam para 2025. Tanto "O Último Azul" quanto "O Agente Secreto" têm estreias previstas no Brasil para o segundo semestre, que ainda não foram anunciadas.

A repercussão nas redes sociais, por outro lado, já é expressiva: inúmeras filmagens da "festa do frevo" de Kleber Mendonça Filho no tapete vermelho de Cannes viralizaram no Instagram e TikTok. Vindos tanto de contas nacionais quanto estrangeiras, vale dizer. Wagner Mouraque já era uma figura internacional antes da estreia, é estrela de outra porção de vídeos e edits, com milhões de visualizações.

Até a estreia dos dois novos filmes por aqui, uma porção recheada de festivais internacionais acontece nos próximos meses. Se bem exibida para o público e para o mundo, o exército implacável dos brasileiros nas redes sociais pode repetir a fama e o sucesso de Fernanda Torres e Walter Salles — estrelas das publicações mais curtidas e comentadas da história da Academia no Instagram.

Em outras palavras, os anos 2020 são do cinema brasileiro. E como diz o meme, "estão deixando a gente sonhar".

*A repórter viajou a convite do Rio2C

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