Pop

Vende-se a Warner: por que gigantes querem comprar empresa apesar de dívida bilionária

Em meio a uma crise financeira e uma disputa por seu portfólio, a Warner Bros. Discovery decide se deve vender ou reestruturar suas operações

Succession: série mostra que a vida real imita a arte (Warner Bros/Reprodução)

Succession: série mostra que a vida real imita a arte (Warner Bros/Reprodução)

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 16h06.

Com um portfólio que inclui grandes sucessos como Harry Potter, Batman, Succession e Game of Thrones, e uma dívida de aproximadamente US$ 35 bilhões, a Warner Bros. Discovery pode estar perto de ser vendida. E o processo de uma eventual aquisição não deve ser fácil — nem para quem vende, nem para quem compra.

A gigante do entretenimento atravessa um momento decisivo em sua trajetória, após receber diversas propostas de aquisição e iniciar uma avaliação detalhada sobre as melhores opções para o seu futuro.

Em um cenário de rápidas transformações no mercado de entretenimento, a empresa se vê diante da necessidade de reavaliar sua estratégia e explorar alternativas que possam não apenas redefinir sua posição, mas também consolidar seu portfólio de ativos.

Nesta terça-feira, 21, a Warner Bros. Discovery anunciou oficialmente que começou a avaliar ofertas de aquisição, após receber o que a empresa descreveu como "interesse não solicitado" de diversos investidores.

A análise dessas propostas deve determinar se a gigante de mídia seguirá em frente com a venda total ou se as operações serão divididas, com transações separadas para suas divisões, Warner Bros. e Discovery Global.

Uma aquisição entre a cisão

O império de mídia, fundado nos primeiros dias de Hollywood, enfrenta hoje um cenário dramático de reestruturação. O último grande movimento da empresa foi a separação das suas operações em duas divisões em junho deste ano: uma para seus negócios de estúdios e streaming, e outra para as redes de TV a cabo.

A Warner, anteriormente sob o comando da AT&T, foi adquirida por US$ 85 bilhões em um movimento que inicialmente parecia estratégico, mas que resultou em uma crise financeira sem precedentes.

A AT&T, ao tentar competir nas guerras do streaming com o HBO Max, levou a Warner Bros. a um mar de dívidas.

A estratégia agressiva de conteúdo e expansão da AT&T para disputar o mercado com gigantes como Netflix e Disney não se traduziu em crescimento de assinantes e nem gerou o retorno financeiro necessário.

Em 2022, a AT&T tomou a decisão de spin-off da WarnerMedia, que se fundiu com a Discovery para criar a Warner Bros. Discovery (WBD).

A fusão trouxe consigo uma carga de mais de US$ 50 bilhões em dívidas, com a maior parte vinda da WarnerMedia, refletindo anos de expansão agressiva e altos custos em conteúdo. O objetivo inicial da fusão era criar um concorrente de peso para o streaming, mas, ao invés disso, resultou em uma estrutura de capital pesada e de difícil sustentação.

Em uma tentativa de aliviar a pressão, a empresa decidiu dividir suas operações, separando a parte de streaming e estúdios das operações de TV a cabo, onde a dívida será maior.

A separação também será sustentada por um empréstimo de US$ 17,5 bilhões que a Warner Bros. Discovery obteve.

Mas quem vai levar a Warner?

Entre os diversos interessados no império da Warner, o maior e mais agressivo proponente até agora é a Paramount Skydance.

Sob a liderança de David Ellison, filho do bilionário Larry Ellison, fundador da Oracle, a Paramount fez uma primeira oferta para adquirir a Warner Bros. Discovery, propondo aproximadamente US$ 20 por ação.

A proposta, no entanto, foi rejeitada pela administração da Warner Bros. Discovery, que a considerou muito baixa. Com isso, a Paramount Skydance já prepara uma nova oferta, aumentando o valor para, possivelmente, US$ 24 ou mais por ação, além de explorar estratégias alternativas, como apelar diretamente aos acionistas e buscar apoio financeiro adicional.

A Paramount Skydance tem discutido com a Apollo Global Management, uma das maiores firmas de private equity, sobre a possibilidade de incluir a Apollo no financiamento do acordo.

A Apollo, que já tentou adquirir a Paramount anteriormente por US$ 26 bilhões, tem uma experiência considerável no setor e é dona de participações em propriedades importantes de Hollywood, como a Legendary Entertainment.

Com um valor potencial de mais de US$ 60 bilhões, o acordo com a Warner Bros. Discovery seria um dos maiores no setor de mídia, considerando também os US$ 30 bilhões em dívidas da empresa.

O peso da concorrência

Com a pressão crescente de Paramount Skydance, outra gigante do setor, a Comcast, também aparece como uma concorrente significativa.

Fontes disseram ao NYPost que o presidente da Comcast, Brian Roberts, tem grande interesse na biblioteca de conteúdo da Warner Bros. Discovery, especialmente nos filmes e programas da HBO Max. A Comcast já tem uma parceria estratégica com a Warner Bros. Discovery para a distribuição de conteúdo por meio da unidade Xfinity.

A empresa também está em processo de reestruturação, com a criação de uma nova entidade chamada Versant, focada em suas operações de TV a cabo, o que pode deixá-la bem posicionada para uma possível oferta de aquisição.

A Comcast possui cerca de US$ 10 bilhões em caixa, comparado aos US$ 2 bilhões da Paramount Skydance, o que coloca a gigante de mídia em uma posição financeira mais forte para competir pela Warner Bros. Discovery.

Outros players do mercado, como a Netflix e a Amazon, também foram mencionados como potenciais interessados na aquisição, embora o interesse delas seja menos claro.

Em uma declaração pública recente, Greg Peters, co-CEO da Netflix, afirmou que a empresa não tem o hábito de realizar grandes aquisições e preferiria focar no crescimento orgânico.

Um portfólio mágico

David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery, tem sido fundamental na posição estratégica da empresa ao longo dos últimos anos.

Sob sua liderança, a companhia tem se concentrado em reduzir sua enorme dívida, que foi um dos principais desafios desde a fusão entre WarnerMedia e Discovery em 2022.

A decisão de explorar alternativas estratégicas, como a venda da empresa ou sua divisão, pode ser vista como parte de um esforço para maximizar o valor de seus ativos e posicionar a Warner Bros. Discovery para o futuro.

A empresa contratou a Goldman Sachs para ajudar a avaliar as propostas de compra e determinar a melhor estratégia.

De acordo com fontes próximas à negociação, a Warner Bros. Discovery espera uma avaliação superior a US$ 30 por ação para suas divisões de estúdios e streaming, o que representaria uma valorização significativa em relação ao valor atual das ações da companhia, que estavam em torno de US$ 18 em meados de outubro, segundo a CNBC.

Um dos principais atrativos para os compradores potenciais é o valioso portfólio de ativos da Warner Bros. Discovery.

A companhia detém alguns dos conteúdos mais rentáveis e amados do mundo do entretenimento. Entre os maiores sucessos estão a franquia Harry Potter, com um valor de US$ 34,5 bilhões, e Batman, que vale US$ 29,6 bilhões.

A empresa também possui direitos sobre o Universo Estendido DC, Looney Tunes, Game of Thrones, e muitos outros, além de ser um dos principais players no mercado de streaming com a plataforma HBO Max.

A Warner também tem sido uma força dominante nas bilheteiras, ultrapassando a marca de US$ 4 bilhões em receitas globais neste ano, com sucessos como o filme de Minecraft e o lançamento de Superman. A combinação de um portfólio valioso de franquias e a posição de liderança no streaming e no cinema a torna uma empresa altamente atraente para os compradores.

O otimismo do mercado

Os analistas bancários estão cada vez mais confiantes de que uma venda ou cisão da Warner pode desbloquear um valor significativo para os acionistas. A divisão dos negócios de streaming e estúdios, considerada a opção mais viável, é vista como a chave para maximizar o valor da companhia.

Jessica Reif Ehrlich, analista do Bank of America, afirmou em setembro que, como uma empresa independente, os ativos de streaming e estúdios da WBD poderiam gerar uma intensa disputa entre potenciais compradores.

Steven Cahall, analista do Wells Fargo, mostrou otimismo em relação à WBD, indicando que a empresa possui um portfólio de propriedades intelectuais valioso em um momento em que os estúdios e streamers estão em expansão.

Cahall sugeriu que a "Netflix é o comprador mais atraente", segundo a CNBC, e destacou que a maior oportunidade é a de que a plataforma aproveite o catálogo de peso da WBD.

O analista enfatizou que os US$ 12 bilhões anuais em gastos com conteúdo da WBD, somados à sua vasta biblioteca e capacidade de produção, representam uma chance estratégica para ampliar as ofertas da Netflix e até mesmo entrar no mercado de videogames.

Para o analista do Wells Fargo, o valor da divisão de streaming e estúdios da WBD em cerca de US$ 65 bilhões, o que poderia resultar em uma avaliação superior a US$ 21 por ação em uma transação de fusão ou aquisição.

A Guggenheim também revisou suas previsões para a WBD, aumentando o preço-alvo de US$ 14 para US$ 22 em outubro de 2025, mantendo a recomendação de compra. O banco atribuiu a revisão positiva à "força impulsionada pelo conteúdo nas divisões de Studios e Streaming," apontando que esses ativos são fundamentais para o crescimento da empresa.

Em setembro de 2025, Ehrlich, do BofA, voltou a comentar sobre o processo de aquisição, observando que o "único fator surpreendente" era o "timing" da movimentação da Paramount em relação à WBD. A empresa está agora "à venda," e os analistas concordam que a execução será fundamental.

Um analista destacou que "eles não vão vender com desconto — a questão é se algum comprador pode atingir essa avaliação e navegar pelo cenário regulatório." Essa visão reforça a expectativa de que a WBD não aceitará uma oferta que não reflita o real valor de seus ativos.

As propostas de aquisição, especialmente da Paramount, destacam o desejo das grandes corporações de expandir seus portfólios de conteúdo em um mercado cada vez mais competitivo. Por outro lado, o alto nível de endividamento da Warner Bros. Discovery e a complexidade das negociações indicam que essa transação pode não ser tão simples quanto parece.

Acompanhe tudo sobre:WarnerStreamingParamount

Mais de Pop

No Tiny Desk Brasil, Péricles deseja levar o samba a um novo patamar: 'Momento melhor para a música'

É feriado nesta segunda-feira, 20 de outubro? Veja quem tem direito a folga

Roubo no Louvre: além de Lupin, quais obras já retrataram crimes 'quase' perfeitos?

Sam Rivers, baixista do Limp Bizkit, morre aos 48 anos