'Wandinha': 2ª temporada volta mais forte (e cara)
Repórter de POP
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 18h44.
Última atualização em 6 de agosto de 2025 às 19h59.
A segunda temporada de Wandinha chegou ao catálogo da Netflix convenientemente nesta quarta-feira, 6 — só poderia ser assim, já que Wednesday (quarta-feira, em inglês) é o nome original da personagem. Trouxe de volta Jenna Ortega no papel da adolescente inexpressiva, Tim Burton como a mente criativa por trás da produção, e até a mãozinha carismática como ponto de humor. Falta saber se vai conseguir trazer de volta também a estrondosa audiência da primeira temporada.
Três anos atrás, quando estreou no streaming, a nova adaptação da Família Addams passou de 1 bilhão de horas assistidas antes mesmo de completar um mês no catálogo. Não muito tempo mais tarde, tornou-se a série mais vista da plataforma em língua inglesa, e hoje já acumula mais de 250 milhões de visualizações (da série completa). Na época do lançamento, tornou-se um hit nas redes sociais — muito pela icônica cena de dança de Ortega ao som de Bloody Mary, de Lady Gaga, que alguém colocou por acaso em um edit da série, porque achou que combinou.
Não só a cena fez com que a música de Gaga se tornasse uma das mais ouvidas da cantora no Spotify, como também mexeu, de certa forma, nas finanças da Netflix. A empresa não divulga o impacto exato das produções em seus resultados, mas registrou no primeiro trimestre de 2023, primeiro após a estreia da série, um aumento de 3,7% na receita, em relação ao mesmo período do ano anterior.
O número de assinantes, na mesma época em que a dança de Wandinha já se tornava tema de festa de aniversário mundo afora e estampava bolos, camisetas e bonés, também cresceu 4,9% ano sobre ano.
Alguns motivos explicam o sucesso da primeira temporada da série. Há quem diga que a dança já foi pensada para o TikTok, também tem quem acredite que, se não fosse uma história da nostálgica e já famosa Família Addams, não teria funcionado assim tão bem. Ninguém do elenco confirmou a primeira teoria. Já a segunda é uma das certezas de Alfred Gough, criador e showrunner da série.
“Acho que o sucesso pode ser explicado de muitas formas, mas o que observamos foi a união que a série trouxe dentro das famílias, por ser algo multigeracional, de certa forma”, destacou ele em uma coletiva de imprensa da qual a EXAME participou. “Nós nos sentimos incríveis com isso, o fato de Wandinha ter, sabe, cruzado tantas gerações, dos 8 aos 80. Em especial para os jovens, é fantástico. Tenho uma filha, penso que fiz esse show para ela, mas também para mim, e penso que por isso funcionou tão bem”.
Elenco de Wandinha durante coletiva de imprensa da qual a EXAME participou. (Netflix/ Divulgação)
Em 2025, com a estreia da segunda temporada, talvez já não seja necessária uma dança viral no TikTok. E independentemente das referências à Família Addams, o título já criou um público consolidado — que parece ser persistente mesmo três anos após a estreia da série.
Mas a Netflix, que já não divulga mais o número de assinantes trimestre a trimestre e tem focado mais no lucro e na receita, precisa que o rosto insípido da personagem de Ortega faça sucesso o suficiente para cobrir os (altos) custos de produção do segundo ano da série — que incluem desde a contratação de Lady Gaga para o elenco até uma nova locação, na Irlanda.
A plataforma de streaming não divulgou o valor de investimento da série, muito embora a estimativa seja que os novos episódios tenham passado do valor de US$ 20 milhões, disseram fontes ouvidas pelo Deadline. Ainda que não esteja confirmado, o número fica ainda mais factível dada a informação de que a segunda temporada de Wandinha se tornou a produção mais cara já gravada na Irlanda, segundo a agência estatal responsável pela produção audiovisual do país.
O custo, se estiver correto, é significativo para a empresa, mas passa longe das séries mais custosas da plataforma. Cada episódio de Stranger Things — carro-chefe da plataforma nos últimos anos — custou cerca de US$ 30 milhões por temporada, o que tornou a série na mais cara já produzida pela Netflix. Demais produções como One Piece, Sandman” e Sense8 também variam em custo de produção de US$ 18 a US$ 9 milhões por capítulo.
Ainda que não seja a mais cara das produções do streaming, a série carrega algo que nem Stranger Things deteve: o peso do topo na lista de audiência. E isso é algo que os showrunners de Wandinha entenderam bem quando embarcaram em uma segunda temporada — e até na terceira, que já confirmada pela Netflix antes mesmo da estreia do segundo ano.
"Acho que digo por todos aqui quando falo que não fazíamos ideia de que seria algo tão popular assim”, disse o criador e showrunner da série, Miles Millar, na coletiva de imprensa. “Para essa segunda, há um ‘frio na barriga’ maior. Você não quer que a série se acomode sobre os louros, e quisemos aumentar a aposta em termos do fazer. E as expectativas de ninguém eram maiores do que as nossas. Por isso, a ideia foi fazer tudo maior: produção na Irlanda, figurino, cenário, design de produção, novas adições ideais para o elenco”.
Entre essas novidades de atores está a presença de Joanna Lumley (Vovó), parceira de longa data de Tim Burton, voz de Maudeline Everglot em A Noiva Cadáver (2005), e Steve Buscemi (Barry Dort, o novo diretor).
Wandinha: 2ª temporada estreia em agosto de 2025 (Netflix/ Divulgação)
Outro custo alto a série foi o próprio salário de Ortega. Na primeira temporada, a atriz recebeu cerca de US$ 30 a US$ 35 mil por episódio como Wandinha, um total de até US$ 280 mil, repercutiu o The Hollywood Reporter na época. Para a segunda, além de protagonista, ela entrou como produtora executiva. Em agosto de 2023, como mostrou a Bloomberg, ela teria pedido um valor de até US$ 1 milhão para interpretar a personagem novamente.
Nem a atriz nem a Netflix confirmaram o valor exato do cachê de Ortega.
Valor alto ou não, é o rosto e a interpretação dela que levou milhares de pessoas a se identificarem com a personagem. Não pela falta de expressividade, mas pela possibilidade de ser “estranho” e, ao mesmo tempo, aceito — o que gera conexão em especial com adolescentes.
Durante a coletiva, Ortega relatou que o retorno à série era um “conforto desconfortável” que mescla a falta de atuação expressiva com uma mais profunda e, para ela, mais desafiadora.
“A força e a confiança dela [Wandinha] tornam a personagem em algo muito legal de interpretar. E deixa tudo mais difícil, diferente do que pensam. Porque sempre vamos atrás das fraquezas quando vamos interpretar alguém, e a Wandinha não tem isso. Ela demanda tudo em torno dela, e as coisas que ela tem de poder. É fácil de ver quando algo que não é dela, quando eu escorrego na atuação. É quase como se a personagem tivesse uma lista de regras”, comentou a atriz durante a coletiva.
Essa tal lista de regras foi um dos motivos pelos quais Ortega ganhou a reputação de “chata” na internet. Em uma entrevista em 2022, a atriz criticou roteiristas e disse que se recusou a gravar cenas que considerava desconexas com a personagem. Disse inclusive que chegou a mudar diálogos por conta própria.
A fala gerou comoção nas redes. Roteiristas como Steven DeKnight (Demolidor), por exemplo, acusaram a atriz de ter uma postura antiética. Não o suficiente para afastá-la da produção — na verdade, ela se tornou até produtora executiva da segunda temporada em diante.
“Fico muito alegre de pisar aqui de novo, agora mais experiente. Às vezes uma coisa muito traumática acontece com você, como um abraço, você tem de disfarçar e seguir em frente. Wandinha não é muito vulnerável, porque ela é muito inteligente, mas ela nunca nega a afeição que ela tem pelas pessoas. E eu quis explorar isso nessa temporada”, brincou.
O papel foi um divisor de águas na carreira da atriz e abriu espaço para papéis em diversas outras produções em Hollywood e até em filmagens na indústria da música — como a famosa parceria com Sabrina Carpenter para o trailer de Taste.
Sabrina Carpenter e Jenna Ortega em Taste (Reprodução/ YouTube)
Se o investimento vai ser o suficiente para fazer com que o sucesso da primeira temporada se repita, só os próximos dias dirão. Mas, até lá, o apelo para trazer assinantes já antigos da plataforma e os novos para assistir à série já é alto, sobretudo no Brasil.
Em conjunto com a estreia, o marketing e a publicidade para divulgação da série se destacaram tanto em âmbito nacional quanto internacional na maior campanha já realizada pela Netflix para uma produção original.
Nubank, Guaraná Antarctica, Cheetos, Oreo e Vivo foram algumas das marcas envolvidas — e as publicidades atingiram mais de 15 países. As campanhas contaram com o suporte criativo e estratégico do time de Criação de Parcerias de Marca da Netflix. Com exceção da Vivo, todas elas incluem também mídia no plano com anúncios na plataforma de streaming.
O Nubank, por exemplo, criou um curta-metragem que teve contribuições no roteiro do próprio Tim Burton e direção assinada por Gandja Monteiro (a mesma da série). A peça, a primeira parceria entre Nubank e Netflix, apresenta o personagem Pezinho, grande fã da estrela Mãozinha, realizando o sonho de se tornar influenciador digital com o apoio de soluções financeiras do banco digital. No Brasil, a campanha foi veiculada em diferentes formatos no plano com anúncios da Netflix, nas redes sociais e em ações pontuais na televisão aberta.
Jenna Ortega e Lady Gaga no TUDUM 2025, em Los Angeles (Califórnia, EUA). (Kevin Mazur/Getty Images for Netflix)
Antes das marcas, a campanha de divulgação de Wandinha começou há tempos. No show de Lady Gaga em Copacabana, em maio de 2025, 2,5 milhões de pessoas viram a “mãozinha” exposta no cenário junto da cantora, dando sinais de que uma parceria maior estava por vir. E ela veio: no mesmo mês, Gaga se apresentou no TUDUM — evento feito para fãs da Netflix com anúncios de novas produções e presença de talentos — junto de Ortega. Recentemente anunciou um novo single feito exclusivamente para a série.
Para estender a audiência alta nos episódios, a Netflix dividiu a estreia de Wandinha em duas partes. A primeira já está disponível no catálogo do streaming e a segunda vai ao ar no dia 3 de setembro.
Apesar do apelo, dos anúncios e dos fãs cativos, a jornada até o topo da lista de maiores audiências da Netflix não é tão fácil. Mas o momento não poderia ser melhor: se Wandinha conquistou o título de série mais assistida da plataforma quando tinha 230 milhões de assinantes, agora que a plataforma já passou dos 300 milhões, a tendência é chegar até lá mais rápido.