Francesca Monfrinatti em sua loja: posicionamento no segmento de luxo contemporâneo (Mariana Maltoni/Divulgação)
Jonalista colaborador
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 06h00.
Francesca Monfrinatti é parte de uma nova geração de empreendedoras da moda que aprenderam a equilibrar criação e gestão. À frente da marca homônima, a designer e diretora criativa, de 36 anos, construiu um modelo de negócios que cresceu de forma independente, apostando em design autoral, qualidade de produção e um discurso de autenticidade que encontra um público engajado. Dentro e fora das redes sociais, onde conquistou seus primeiros seguidores e, consequentemente, consumidores.
“Vestir-se é um ato de expressão, e não de enquadramento”, diz. Suas coleções partem de referências da alfaiataria clássica e da arquitetura, com silhuetas limpas e volumes contidos. A modelagem privilegia estrutura e movimento, combinando cortes geométricos e caimentos fluidos. “Refletimos sobre os essenciais do guarda-roupa e propomos novas leituras sobre o que é clássico de uma forma nova e muito autêntica”, explica Francesca.
Os tecidos são parte central de seu projeto criativo. Linho, crepe, viscose encorpada, algodão italiano e seda compõem a base das coleções. Já a cartela de cores é neutra — off-white, areia, preto e tons terrosos —, reforçando a ideia de atemporalidade buscada pela designer.
A produção é feita em São Paulo, em parceria com oficinas de pequeno porte. O controle de qualidade e o volume reduzido permitem acabamento de alto padrão. As peças têm preços entre 780 e 2.900 reais, faixa que posiciona Francesca no segmento de luxo contemporâneo, que cresce mesmo em um mercado ainda dominado por grandes grupos internacionais e nomes já consolidados no país.
Antes de criar o próprio negócio, Francesca foi responsável pela linha de cintos da Daslu. O trabalho com acessórios e o contato com o universo do power dressing dos anos 1980 e 1990 a ajudaram a moldar o olhar técnico e estético que ela levaria para a própria marca.
“Minha mãe sempre trabalhou com joias, então esse universo foi, desde cedo, parte do meu cotidiano”, conta. “Cresci cercada por lapidações, pedras e conversas sobre design. Era menos sobre uma área específica e mais sobre a beleza como linguagem.”
O primeiro passo da marca surgiu em 2017, ainda com foco em acessórios autorais. Em 2022, Francesca ganhou corpo, unindo estética precisa e estratégia de negócio. No Instagram, conta com 91.000 seguidores. Entre suas clientes estão Silvia e Maria Braz, Thai de Melo Bufrem e Jordanna Maia. “Eu acredito que o crescimento só acontece quando há clareza absoluta sobre o que é o negócio. Estética e operação precisam caminhar lado a lado. Um sem o outro simplesmente não se sustenta”, diz.
A flagship foi inaugurada em 2024, na Rua Mateus Grou, em Pinheiros, São Paulo, ao lado de outras marcas nacionais badaladas, como Misci, Neriage e Isa Silva. O ambiente de 270 metros quadrados não tem móveis fixos ou araras permanentes. Cada coleção ocupa o espaço de uma forma diferente. O provador azul, revestido de tecido do chão ao teto, virou ponto de parada obrigatória e o cenário mais fotografado do endereço.
A loja impulsionou os resultados: o ponto físico passou a faturar 14% a mais que o e-commerce, e o atacado cresceu 26% após a abertura. Com previsão de 14 milhões de reais de faturamento até o fim do ano, a marca figura entre as mais promissoras do novo luxo nacional.
Nos últimos meses, Francesca iniciou uma colaboração com a Hering, ampliando a presença da designer para novos públicos. Também chegou a 50 pontos de venda multimarcas, entre eles a NK Store. “Quando o público entende com clareza o que a marca é, o que representa e o que propõe, a expansão deixa de ser um risco e se torna um movimento natural. A nossa essência é inegociável. É o que nos faz diferentes”, diz.
No final de outubro, Francesca apresentará o primeiro desfile da marca em São Paulo, no Estádio do Pacaembu, consolidando sua entrada no calendário de moda.
“Para o futuro, espero ver os designers e empreendedores da moda brasileira cada vez mais unidos. Trocando ideias, debatendo abertamente os desafios do setor e construindo juntos soluções reais. Só evoluímos como indústria quando trabalhamos em unidade, com marcas de estilos e filosofias diferentes que se complementam e compartilham o mesmo propósito: fortalecer a moda nacional.”