José Ernesto Bologna, é consultor de educação e fundador da Ethos ShareWoods (Arquivo pessoal/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 21h59.
As pressões da cultura social impactam, naturalmente, as culturas escolares. Nos anos 1990, vimos a chegada massiva da internet, a abertura de debates sobre globalização, o multiculturalismo e o debate sobre direitos humanos.
Na década de 2000, expansão das redes sociais, emergência de pautas ambientais (mudanças climáticas), diversidade cultural, temas de gênero e identidade. Nos anos 2010 e 2020, consolidação de debates sobre consumo digital, saúde mental, racismo estrutural, sexualidade; mais recentemente, inteligência artificial, fake news e ética digital.
Com variações pontuais, a educação básica, incluindo o ensino médio, buscou e busca adaptar-se a essas pressões e à sua época. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2000 e 2010) já incluíam, por exemplo, temas transversais, como meio ambiente, diversidade, saúde, ética.
Os sistemas de avaliação Saeb e Pisa também indicam, desde os anos 2000, crescente inclusão de competências socioemocionais e cidadãs nos currículos.
Em contraste, o ensino superior — ressalvadas exceções — se mantém disciplinar, conteudista, voltado para a empregabilidade, com lenta revisão curricular. Principalmente, em geral desconsidera que tem uma falta de sincronia com as demandas do mundo atual.
É um cenário que traz muitas oportunidades de ações no ensino superior, desde o aprimoramento de instituições estabelecidas, até o surgimento de novas escolas com novas propostas.
A escola muda o mundo? O mundo muda a escola? Ora, todas as instituições de poder influem em todas. É justamente essa complexa dinâmica que cria a história das mentalidades. Autores, atores e assistentes, coproduzimos, mas não determinamos.
O mundo que hoje habitamos mudou intensamente a família, a empresa, o trabalho. Muitos Estados, e Igrejas, “dessincronizaram”. Tradicionalmente, as escolas quase só “atendiam” a cultura social. A atualidade é de revisão do equilíbrio, para maior protagonismo escolar.
Transformações são inegociáveis. Somos permanentes reconstrutores de culturas. É inevitável uma dose de tradição, como um valor de mínima estabilidade para (alguma) previsibilidade.
É inevitável uma dose de inovação, como um valor de avanço. A questão não é “se”, nem “quando”. A questão é “quanto” e “com quem”. Atentos à época, precisamos criar um equilíbrio sustentável.
Uma das formas, entre outras, é o surgimento de novas instituições, cujas liberdades de nascença permitam adaptações mais ágeis. É papel dos educadores e das escolas buscar equilibrar o valor da tradição e o valor da ruptura em uma nova equação, uma nova sincronia.