Matthew Prince: CEO da Cloudflare (Steve Jennings/Getty Images)
Repórter
Publicado em 18 de novembro de 2025 às 11h09.
Última atualização em 18 de novembro de 2025 às 11h13.
Menos de uma semana após acusar o Google de abuso de poder e risco sistêmico para o modelo de negócios da internet, o CEO da Cloudflare, Matthew Prince, viu sua própria empresa protagonizar uma falha que afetou centenas de serviços globais nesta terça, 18. O episódio reacende o debate sobre o peso das infraestruturas privadas na estabilidade da web.
Interrupções como da Cloudflare podem custar US$ 9 mil por minuto para empresasDurante o Web Summit, realizado em novembro em Lisboa, Prince criticou duramente o domínio do Google no mercado de buscas e sua prática de coletar conteúdo para treinar modelos de inteligência artificial sem pagar aos criadores. Segundo ele, a gigante da tecnologia envia hoje apenas um visitante a cada 20 páginas rastreadas, frente à média anterior de 1 para cada 2, ao priorizar resumos gerados por IA nos resultados de busca.
“O grande benfeitor da internet nos últimos 27 anos foi o Google. O grande vilão da internet hoje também é o Google”, disse o executivo no palco do evento. Prince afirmou ainda que empresas como OpenAI e Anthropic fazem milhares de coletas de dados sem gerar tráfego em retorno, o que ameaça diretamente a sustentabilidade de sites e veículos de mídia.
A ironia do momento não passou despercebida no setor. A Cloudflare, embora não opere motores de busca ou IA generativa, fornece infraestrutura crítica para parte expressiva da internet — incluindo redes de entrega de conteúdo, mitigação de ataques e segurança para plataformas globais como Shopify, Canva, Riot Games e o próprio ChatGPT.
A queda nos serviços, causada por uma falha nos sistemas da Cloudflare, levantou dúvidas sobre a resiliência de ecossistemas digitais cada vez mais dependentes de poucos intermediários. Embora a empresa tenha afirmado que investiga o impacto do erro, o episódio evidencia que a concentração de poder na infraestrutura também impõe riscos semelhantes aos que Prince denuncia em outros campos.
A contradição ressalta um ponto comum entre as críticas à atuação do Google e os efeitos da queda da Cloudflare: ambos expõem a vulnerabilidade estrutural de uma internet altamente centralizada, onde poucas empresas controlam o acesso, a distribuição e o funcionamento de grande parte dos serviços digitais.
Embora Prince tenha pedido publicamente que gigantes da IA devolvam valor ao ecossistema — com remuneração a editores e transparência sobre coleta de dados —, a instabilidade desta semana mostra que o debate sobre dependência crítica não pode se limitar a Google e gigantes de nome mais conhecidos do grande público.
Prince, que chamou de “insano” o risco de um site perder receita por bloquear rastreadores de IA, pode agora precisar lidar com críticas sobre um modelo igualmente concentrado, ainda que em outra camada da rede.