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CEO da Cloudflare criticou monopólios dias antes de sua empresa derrubar parte da internet

Matthew Prince alertou sobre concentração de poder no Google e efeitos da IA na distribuição dos acessos a sites

Matthew Prince: CEO da Cloudflare (Steve Jennings/Getty Images)

Matthew Prince: CEO da Cloudflare (Steve Jennings/Getty Images)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 18 de novembro de 2025 às 11h09.

Última atualização em 18 de novembro de 2025 às 11h13.

Menos de uma semana após acusar o Google de abuso de poder e risco sistêmico para o modelo de negócios da internet, o CEO da Cloudflare, Matthew Prince, viu sua própria empresa protagonizar uma falha que afetou centenas de serviços globais nesta terça, 18. O episódio reacende o debate sobre o peso das infraestruturas privadas na estabilidade da web.

Interrupções como da Cloudflare podem custar US$ 9 mil por minuto para empresas

Durante o Web Summit, realizado em novembro em Lisboa, Prince criticou duramente o domínio do Google no mercado de buscas e sua prática de coletar conteúdo para treinar modelos de inteligência artificial sem pagar aos criadores. Segundo ele, a gigante da tecnologia envia hoje apenas um visitante a cada 20 páginas rastreadas, frente à média anterior de 1 para cada 2, ao priorizar resumos gerados por IA nos resultados de busca.

“O grande benfeitor da internet nos últimos 27 anos foi o Google. O grande vilão da internet hoje também é o Google”, disse o executivo no palco do evento. Prince afirmou ainda que empresas como OpenAI e Anthropic fazem milhares de coletas de dados sem gerar tráfego em retorno, o que ameaça diretamente a sustentabilidade de sites e veículos de mídia.

Concentração na web: quando a crítica vira espelho

A ironia do momento não passou despercebida no setor. A Cloudflare, embora não opere motores de busca ou IA generativa, fornece infraestrutura crítica para parte expressiva da internet — incluindo redes de entrega de conteúdo, mitigação de ataques e segurança para plataformas globais como Shopify, Canva, Riot Games e o próprio ChatGPT.

A queda nos serviços, causada por uma falha nos sistemas da Cloudflare, levantou dúvidas sobre a resiliência de ecossistemas digitais cada vez mais dependentes de poucos intermediários. Embora a empresa tenha afirmado que investiga o impacto do erro, o episódio evidencia que a concentração de poder na infraestrutura também impõe riscos semelhantes aos que Prince denuncia em outros campos.

A contradição ressalta um ponto comum entre as críticas à atuação do Google e os efeitos da queda da Cloudflare: ambos expõem a vulnerabilidade estrutural de uma internet altamente centralizada, onde poucas empresas controlam o acesso, a distribuição e o funcionamento de grande parte dos serviços digitais.

Embora Prince tenha pedido publicamente que gigantes da IA devolvam valor ao ecossistema — com remuneração a editores e transparência sobre coleta de dados —, a instabilidade desta semana mostra que o debate sobre dependência crítica não pode se limitar a Google e gigantes de nome mais conhecidos do grande público.

Prince, que chamou de “insano” o risco de um site perder receita por bloquear rastreadores de IA, pode agora precisar lidar com críticas sobre um modelo igualmente concentrado, ainda que em outra camada da rede.

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