Linha dura: executivo que assumiu em 2022, tornou em missão cortar custos, renegociar dívidas e recuperar a qualidade do conteúdo para reverter prejuízo milionário (Divulgação)
Repórter
Publicado em 11 de julho de 2025 às 15h25.
Última atualização em 11 de julho de 2025 às 15h26.
Em 2022, o Medium, plataforma de publicação de textos com mais de 100 milhões de usuários mensais, tinha um prejuízo mensal de US$ 2,6 milhões, sem conseguir justificar os gastos como investimento em crescimento. A empresa também via a base de assinantes encolher enquanto o conteúdo promovido na plataforma atraía críticas, recheado de promessas fáceis de enriquecimento e textos de baixa qualidade.
O cenário se agravou com o congelamento do ecossistema de startups, que secou a oferta de novos aportes e afastou qualquer interesse de compra. A alternativa foi drástica: tornar o Medium lucrativo ou encerrá-lo.
Segundo Tony Stubblebine, CEO desde julho de 2022, em postagem feita na própria plataforma, a empresa estava insolvente no papel, devendo US$ 37 milhões em empréstimos vencidos e acumulando US$ 225 milhões em preferências de liquidação, cláusula comum que garante retorno aos investidores antes de qualquer ganho para funcionários ou fundadores. “Isso matava o moral, pois significava anos de trabalho com 100% do benefício indo para investidores ausentes”, disse ele.
O plano de recuperação envolveu três frentes principais: aumento de assinantes, redução de custos operacionais e corte de pessoal. A equipe foi de 250 para 77 pessoas. Houve redução importante nos custos de infraestrutura em nuvem, de US$ 1,5 milhão para US$ 900 mil por mês, além de renegociação de um contrato de locação que custava US$ 145 mil mensais por um escritório em San Francisco praticamente vazio desde a pandemia.
Além do corte de despesas, a equipe reformulou o programa de parceiros e os sistemas de recomendação para valorizar textos mais informados e autorais. A meta era reverter a percepção de que o Medium recompensava apenas iscas de cliques e spam travestido de artigo. Em agosto de 2024, a empresa registrou lucro de US$ 7 mil no mês e desde então segue no azul, investindo parte desse excedente para melhorar a plataforma.
O maior desafio estrutural foi a chamada recapitalização ou recap, processo usado para reorganizar a participação acionária e as dívidas. Stubblebine narra ter sido aconselhado a ameaçar deixar o cargo para forçar investidores a abrir mão de direitos preferenciais. “A lógica era simples: sem um incentivo para a equipe continuar, a empresa não tinha futuro”, escreveu ele.
O processo eliminou as preferências de liquidação antigas, converteu empréstimos em participação acionária e reduziu o número de tranches — faixas de investidores com direito a voto — para simplificar a governança. Apenas 6 dos cerca de 113 investidores originais participaram do novo aporte, sinalizando aceitação dos termos mesmo diante da grande diluição de suas fatias.
Para os funcionários, o recap significou também que todas as antigas opções de ações praticamente perderam valor. A empresa fez novos planos de concessão de ações com nova vesting — o cronograma de aquisição de direitos — para alinhar o incentivo ao futuro da companhia.
O CEO do Medium defendeu que o processo foi necessário não só para ajustar as finanças, mas para realinhar a missão de “aprofundar o entendimento das pessoas” com conteúdo de qualidade. Segundo ele, apenas cortar custos sem corrigir a proposta editorial resultaria em um negócio lucrativo vendendo algo que envergonharia a equipe.