O uso de peptídeos no esporte: promeça de mais recuperação e desempenho (Getty Images)
Redatora
Publicado em 19 de setembro de 2025 às 11h28.
Os peptídeos se tornaram a palavra de efeito do mercado de beleza e bem-estar: prometem reparar tecidos, estimular colágeno e turbinarem a recuperação muscular — e, com isso, atraem consumidores, clínicas e até fisiculturistas dispostos a experimentar tratamentos pouco regulados. Segundo levantamento da Zion Market Research, o setor de beleza e cuidados pessoais pode faturar até US$ 904,25 bilhões até 2030, e os peptídeos surgem como um dos pilares dessa demanda.
Peptídeos, afinal, são cadeias de aminoácidos, blocos que, juntos, formam proteínas — moléculas onipresentes no corpo humano, com funções que vão de neurotransmissão a defesa antimicrobiana. Alguns nomes que ganharam as prateleiras e a atenção científica incluem o Tripeptídeo-3, ou Syn®-Ake, que imita a ação da waglerina-1, molécula encontrada no veneno de uma espécie de cobra, e sequências como KTTKS e GHK-Cu, associados à estimulação de colágeno e à melhora da elasticidade da pele.
No universo das academias, clínicas de longevidade e fóruns online, surgem relatos de “stacks” — combinações experimentais de peptídeos, hormônios e outras substâncias — que prometem acelerar ganho de massa, recuperação e perda de gordura. Exemplos citados em relatos de mercado incluem o BPC-157 (derivado do suco gástrico), associado a supostos ganhos na cicatrização e saúde intestinal, e o TB-500, derivado da timosina beta-4, usado em medicina veterinária (cavalos de corrida) e agora replicado em mercados informais.
Essas práticas clandestinas multiplicam riscos: além da ausência de doses seguras comprovadas, muitos produtos comercializados ilegalmente têm composição incerta, o que pode agravar efeitos adversos. A USADA alerta que, apesar da proibição, há registros de uso na comunidade esportiva; a WADA classifica alguns desses compostos como perigosos e proibidos em competição.
Do ponto de vista prático, o uso terapêutico exige padrões de pureza elevados — entre 75% e 95% para peptídeos sintéticos, segundo literatura científica citada pela USP — e acompanhamento médico rigoroso. Comprar peptídeos fora de canais regulamentados não é apenas ilegal em muitos casos: é uma roleta russa biomolecular.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já sinalizou limites: o BPC-157 é proibido no país, e em outubro de 2024 a agência baniu a comercialização e manipulação dos chamados “chips da beleza”, implantes hormonais que poderiam conter peptídeos. Produtos aprovados e de circulação autorizada hoje incluem medicamentos injetáveis para obesidade com semaglutida (Ozempic, Wegovy), liraglutida (Saxenda) e tirzepatida (Mounjaro), além de cremes com peptídeos e suplementos de colágeno e vitaminas. Em caso de dúvida, a orientação técnica é checar o registro no site oficial da Anvisa.
Enquanto isso, o mercado ilegal floresce em paralelo: lojas que vendem “peptídeos de pesquisa”, importados por canais não regulados, prometem fórmulas personalizadas e doses não comprovadas. Clínicas que praticam biohacking oferecem protocolos experimentais — muitas vezes sem evidência científica sólida ou aprovação ética — e seduzem clientes com resultados rápidos e testemunhos anedóticos.
A indústria e a academia tentam responder: pesquisas continuam a investigar moléculas como o Tripeptídeo-3 (Syn®-Ake) e outros oligopéptidos com potencial estético; laboratórios buscam padrões de produção e meios de entrega seguros. Mas o ritmo da inovação química e o apetite do consumidor por resultados imediatos frequentemente ultrapassam a capacidade regulatória.
Para quem busca benefícios estéticos ou atléticos, a recomendação é clara e alinhada com órgãos oficiais: priorizar tratamentos com comprovação científica, verificar registro e procedência, e evitar automedicação ou compras em mercados paralelos.
Peptídeos com uso clínico exigem acompanhamento de profissionais qualificados — endocrinologistas, médicos do esporte ou dermatologistas — e, quando aplicáveis, exames que monitorem efeitos colaterais.