As empreendedoras mineiras Jennifer de Faria (CFO), Tatiany Ribeiro (CTO) e Jade Utsch (CEO), criadoras da startup RadarFit.
Repórter
Publicado em 26 de setembro de 2025 às 15h01.
Última atualização em 26 de setembro de 2025 às 15h05.
Nascida em 2018 com a proposta de gamificar hábitos saudáveis no trabalho, a RadarFit decidiu que 2025 seria o ano de internacionalizar de fato sua solução — e recebeu do marketplace da Microsoft uma pista de decolagem. A integração, fruto do investimento do programa WE Ventures (iniciativa de empreendedorismo feminino da Microsoft com parceiros) e de uma curadoria técnica exigente, permite que empresas de qualquer país contratem o app diretamente pelo ecossistema da Big Tech, com cobrança e governança unificadas.
O aplicativo funciona como um super app de saúde e bem-estar corporativo, baseado em inteligência artificial e gamificação. Ele monta rotinas personalizadas para colaboradores — incluindo planos de alimentação, hidratação, treinos guiados, práticas esportivas e meditações — e transforma cada meta cumprida em pontos que podem ser trocados por prêmios. O modelo mantém engajamento dos usuários por meio de desafios, ranking de saúde e até avatares 3D. Para as empresas, a RadarFit entrega ainda um dashboard de indicadores de bem-estar e produtividade, ajudando a medir o retorno sobre o investimento.
A estratégia não começou do zero: desde 2020, a startup brasileira passou a atender grupos com operações em vários países, ajustando idioma, usabilidade e compliance a cada mercado. Casos na América Latina — como clientes com times no Brasil e no Peru — abriram o caminho para uma operação distribuída que hoje cobre 14 países, com produto em português, inglês e espanhol e suporte humanizado interno fluente em espanhol.
O plano agora é transformar essa presença em crescimento medido: chegar a 500 empresas e 300 mil usuários fora do Brasil até 2027, com foco em companhias de médio e grande porte, diz a cofundadora Jade Utsch. No Brasil, a base já soma “mais de 600 mil” usuários, segundo a executiva.
A expansão exigiu granularidade pouco glamourosa: reescrever termos de uso e políticas de privacidade por país; redesenhar telas e fluxos para aderência cultural; montar uma rede de logística de recompensas (o programa de prêmios do app) capaz de operar em mercados voláteis.
“Na Argentina, fechávamos com uma loja parceira e, no dia seguinte, ela deixava de existir”, relata Jade.
Nos EUA, a legislação estadual de privacidade restringe o reconhecimento de expressões faciais, usado pela startup para estimar estresse e ansiedade e alimentar o dashboard do RH. A solução: trocar biometria por autoavaliação guiada antes e depois das práticas de meditação — “fica mais mecânico, mas cumpre a lei”, diz Jade ao relatar os desafios ao aprender como expandir a operação.
Na alimentação, o plano é regionalizado. O app aprendeu, por exemplo, que “batata no café da manhã” no Peru não é bug — é hábito — e ajustou os cardápios. Nos esportes, a lista varia por país: beisebol e basquete ganham destaque nos EUA; no Brasil e países vizinhos, outras modalidades sobem na prateleira. A única área imune a idiossincrasias foi a hidratação: “um copo d’água é um copo d’água em qualquer lugar”.
Tecnologicamente, a empresa enfatiza usar IA proprietária em vez de ser um “hub de terceiros”: isso facilita centralizar dados, ouvir usuários (via suporte) e iterar rápido o produto — de desafios com prêmios e ranking de amigos entre empresas diferentes (função prestes a sair) a treinos guiados em academias (além de casa e ar livre). Para 2027, está no beta um módulo de leitura básica de exames para personalizar ainda mais as rotinas (com salvaguardas clínicas e de privacidade).
No B2B, o argumento não é só bem-estar. A empresa entrega um painel de indicadores para o RH cruzar engajamento, riscos (sedentarismo, obesidade, ansiedade), absenteísmo e custos, e calcular o ROI dos programas — um ponto que Jade diz ainda faltar em concorrentes que “param no número de meditações feitas”. Em setores regulados, o app também apoia a agenda de ESG e pode habilitar benefícios fiscais via PAT (do apoio à alimentação do trabalhador).
O canal da Microsoft adiciona escala e governança: a contratação e o billing acontecem dentro do Azure Marketplace, com compliance centralizado. A startup já vinha de um aporte (2023) de R$ 5 milhões do WE Ventures (Microsoft, Sebrae e parceiros) e da Hiker Ventures, dinheiro focado em expansão e ganho de mercado.
A internacionalização começa por América Latina (onde a adesão é natural e há fila de espera), Portugal (proximidade cultural) e Estados Unidos (maturidade do mercado corporativo em saúde). O processo comercial é replicável: onboarding em múltiplos países, material de lançamento adaptado e suporte humanizado. “A entrada no marketplace é o começo: primeiro validamos tração por país, depois investimos capital de forma mais agressiva”, diz Jade.