Se for levada adiante, a estrutura atravessaria o coração da África, ligando o porto de Mombaça, no Quênia, à costa atlântica da República Democrática do Congo (Rafe Swan/Getty Images)
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Publicado em 5 de novembro de 2025 às 14h07.
Sediada nas Ilhas Maurício, a operadora de telecomunicações africana Seacom avalia a viabilidade de uma iniciativa pouco convencional: construir um cabo submarino, mas em solo firme. Se for levada adiante, a estrutura atravessaria o coração da África, ligando o porto de Mombaça, no Quênia, à costa atlântica da República Democrática do Congo.
A proposta pretende resolver um gargalo estrutural das telecomunicações no continente: a ausência de um cabo direto entre as costas leste e oeste. Hoje, quando há falhas nos cabos da costa leste – que carregam o tráfego de Europa e Ásia –, é preciso contornar o continente pelo Cabo da Boa Esperana, na África do Sul, e subir novamente pela costa oeste. Isso eleva custos e aumenta a latência.
Esse plano, porém, esbarra em desafios geográficos, logísticos e diplomáticos. O terreno acidentado e a instabilidade política na região já inviabilizaram tentativas anteriores de criar uma conexão por fibra terrestre. A Seacom agora acredita que uma infraestrutura inspirada em cabos submarinos pode tornar a travessia viável mesmo fora do mar.
Em entrevista ao The Register, o arquiteto de transmissão da Seacom, Nic Breytenbach, explicou que esse tipo de cabo é mais resistente a furtos, já que utiliza fibra óptica e não precisa de cobre — metal que atrai ladrões interessados no valor de revenda.
Além disso, a tecnologia usada em cabos subaquáticos dispensa fontes de energia contínuas ao longo do percurso e pode ser adaptada para passar por lagos, pântanos ou trechos difíceis de escavar.
A Seacom reconhece que adaptar esses cabos ao ambiente equatorial também será um desafio, já que foram originalmente projetados para operar em águas frias e profundas – bem diferente de uma rota próxima à linha do Equador. Ainda assim, Breytenbach cita o uso bem-sucedido de sistemas submarinos no lago Tanganica, também na África, e a oferta de repetidores robustecidos pela Nokia como sinais positivos.
Apesar disso, o projeto, por ora, ainda está em fase exploratória. A empresa também concentra esforços na construção do Seacom 2.0, novo cabo que conectará a África à Europa, Índia e Singapura via Mar Vermelho — região que recentemente registrou cortes e interrupções em cabos existentes.