Tecnologia

'Steve Jobs chinês': como o CEO da Xiaomi fez empresa desafiar big techs com carros elétricos

Empresa chinesa se destaca no setor automotivo ao combinar base de 700 milhões de usuários, estratégia verticalizada e liderança carismática

Publicado em 22 de julho de 2025 às 09h37.

Fundada em 2010, a Xiaomi deixou de ser apenas uma fabricante de celulares para se tornar uma potência da tecnologia chinesa com ambições globais. Sob comando de seu fundador e CEO Lei Jun, a companhia conquistou feitos notáveis em pouco tempo: depois de ultrapassar marcas como Huawei no setor de smartphones, agora entra com força no segmento de carros elétricos.

O modelo mais recente da Xiaomi, o SUV YU7, vendeu mais de 200 mil unidades em apenas três minutos após o lançamento no mês passado, segundo informações da The Economist. Ele é o segundo veículo da empresa, que estreou no setor automotivo com o sedã esportivo SU7, em março de 2024. Desde então, já colocou mais de 300 mil carros nas ruas da China e enfrenta uma fila de pedidos que levará mais de um ano para ser atendida.

O sucesso da Xiaomi ocorre em meio à intensa guerra de preços no mercado chinês de veículos elétricos. Mesmo assim, o CEO afirmou que espera que a divisão automotiva se torne lucrativa ainda este ano. Desde o início de 2024, o valor de mercado da Xiaomi quadruplicou, chegando a cerca de US$ 190 bilhões.

Enquanto a Apple gastou bilhões ao longo de uma década e abandonou seus planos de entrar no setor automotivo, a Xiaomi conseguiu aproveitar a maturidade da indústria na China e contratar talentos de outras montadoras locais. Além disso, construiu do zero sua própria fábrica em Pequim, abandonando o modelo anterior de terceirização usado para a produção de celulares. Agora, a empresa adota essa abordagem vertical também para sua linha de smartphones e outros dispositivos conectados.

Dos celulares aos carros

A base de clientes também joga a favor. No fim de 2023, a Xiaomi afirmou ter 700 milhões de usuários mensais ativos em seus dispositivos. Além de consumirem hardware, muitos acessam a loja de aplicativos da empresa, onde jogam e veem anúncios. Uma parcela pequena dessa base comprando um carro já garantiria uma escala relevante à divisão automotiva.

O carisma de Lei Jun, apelidado de “Steve Jobs chinês”, também tem papel central na estratégia. A comunidade de fãs da Xiaomi, os “Mi Fans”, é extremamente engajada, e mesmo após um acidente fatal com o SU7 em março, a demanda pelo YU7 permaneceu alta. O caso gerou críticas sobre a segurança do sistema de direção autônoma da empresa e provocou uma breve queda nas ações, mas o impacto foi temporário.

Hoje, quase metade da receita da Xiaomi com smartphones e dispositivos conectados vem de fora da China, especialmente de mercados emergentes como Índia e Indonésia. A empresa planeja começar a vender carros no exterior até 2027, mesmo sem o mesmo nível de reconhecimento de marca nesses países. Para isso, está investindo em uma rede física com 10 mil lojas internacionais, um salto frente às poucas centenas abertas até 2023.

Apesar do crescimento acelerado, os riscos são consideráveis. A empresa enfrenta concorrência acirrada tanto no setor automotivo quanto no de celulares. A BYD, por exemplo, vende mais de 200 mil carros por mês, dez vezes mais que a Xiaomi. Ao mesmo tempo, a Huawei tem retomado espaço no mercado de smartphones, mesmo após as sanções americanas de 2019.

Ainda assim, a trajetória da Xiaomi mostra que sua aposta em inovação, verticalização e engajamento do consumidor pode mantê-la entre as gigantes da nova economia chinesa.

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