Prototipagem que virou lenda: Um dos poucos exemplares conhecidos do "Nintendo Play Station", console híbrido criado na fracassada parceria entre Sony e Nintendo no início dos anos 1990 (Reprodução)
Repórter
Publicado em 25 de junho de 2025 às 10h25.
Última atualização em 25 de junho de 2025 às 10h56.
A criação do PlayStation é uma das viradas mais impactantes da história da indústria de videogames, iniciada após uma aliança frustrada entre Sony e Nintendo no início dos anos 1990. O que seria uma colaboração estratégica para incluir CDs no Super Nintendo acabou levando a uma ruptura pública e ao nascimento de uma das marcas mais lucrativas do setor.
A parceria teve início quando a Nintendo buscava expandir as capacidades do Super Nintendo Entertainment System, seu console carro-chefe. A Sony, com domínio sobre a tecnologia de CD-ROM, foi escolhida como parceira para desenvolver um acessório capaz de rodar jogos no novo formato, que oferecia mais espaço e menor custo que os cartuchos tradicionais.
O projeto foi batizado de “Play Station” — com espaço entre as palavras — e já contava com cerca de 200 protótipos prontos quando foi descartado. A Nintendo rompeu o contrato em 1991, durante a feira CES de Chicago, surpreendendo a Sony ao anunciar nova parceria com a Philips.
A razão principal para o rompimento foi o incômodo da Nintendo com os termos de licenciamento do projeto: a Sony teria direito a royalties sobre os jogos em CD, o que ameaçava o controle da japonesa sobre sua plataforma. A alternativa com a Philips, porém, fracassou comercialmente.
A Sony decidiu então investir em um console próprio. Liderado pelo engenheiro Ken Kutaragi e com apoio do presidente da empresa na época, Norio Ohga, o projeto evoluiu para o PlayStation, lançado no Japão em dezembro de 1994.
O console estreou com gráficos 3D em tempo real, arquitetura moderna e um preço agressivo de US$ 299, o que equivaleria hoje a US$ 600 ou mais, ajustando pela inflação. Foi o suficiente para conquistar desenvolvedores, lojistas e consumidores, especialmente após a apresentação na E3 de 1995, em que a Nintendo foi ofuscada.
O PlayStation vendeu mais de 100 milhões de unidades em sua primeira geração e transformou a Sony em uma potência global dos videogames. Enquanto isso, a Nintendo seguiu com o Nintendo 64, ainda baseado em cartuchos, o que dificultou a adesão de desenvolvedores terceirizados.
A divisão de games da Sony vendeu mais de 600 milhões de consoles somando todas as gerações do PlayStation até 2025, segundo dados compilados pela própria empresa. O PlayStation 2 ainda detém o posto de console mais vendido da história, com 155 milhões de unidades, enquanto o PS5, lançado em 2020, ultrapassou 60 milhões de unidades comercializadas.
Com receita anual próxima dos US$ 30 bilhões, a Sony Interactive Entertainment representa hoje cerca de um terço do faturamento do grupo Sony, consolidando o PlayStation como um de seus ativos estratégicos mais valiosos.
Do outro lado, a Nintendo passou por altos e baixos desde o rompimento com a Sony. Apesar do impacto negativo inicial, como a perda de franquias que migraram para a concorrente, caso de Final Fantasy, a empresa japonesa conseguiu se reinventar. Após o sucesso do Wii e do Switch, a Nintendo lançou o Switch 2 em março de 2025, vendendo 3,5 milhões de unidades nos primeiros cinco dias, de acordo com dados da Famitsu e da consultoria Ampere Analysis.
Ainda assim, analistas veem a decisão de rejeitar a parceria com a Sony como um ponto de inflexão que redefiniu a estrutura do mercado de consoles. Sem essa ruptura, é provável que a Sony jamais tivesse lançado o PlayStation, e o setor hoje seria dominado por um número menor de grandes marcas.